sábado, 21 de fevereiro de 2009

Chumbo trocado não dói


E no fim dos tempos os amantes trocariam confidências. Nem sempre aquilo que é dito na face do momento é real, mas as letras transbordam, ecoam. Para se falar de amor é necessário muito mais que amar. É necessário não envergonhar. Nós somos sujos e as palavras purificam...

Quarta-feira, 10 de Abril de 2008

Ela é do tipo de mulher que te inspira a mais divinal confiança. Com o passar dos dias e de como é seduzida, ela se entrega. Dona de um ímpeto diabólico, ela te propõe as loucuras mais masoquistas. Ela sempre te surpreende, não importa a maneira: por uma nova garrafa de vinho, um sutiã novo ou o mesmo vinho e o mesmo sutiã sobre o corpo. Ela dá uma sede viril, imperdoável. Engana-se quem acha que ela não se apaixona. Ela ama e muito, mas é um amor tão intenso e efêmero que te desconcerta por inteiro. Ela é uma ladra e faz com que um homem se envolva por vontade própria em suas tramas maquiavélicas. Ela nunca aceita nada; diamantes ou chocolates. Ela é carnívora. Oferece e devora banquetes. Ela é do tipo de mulher que te olha na cara, come teus olhos e faz você confessar as coisas mais inconfessáveis. Coisas estas que fariam qualquer um se afastar de você, mas ela não é qualquer uma. Ela tem um olhar-sorriso de canto que faz com que você sempre volte sempre que ela quiser. Contudo, ela sempre vai. Ela vai, mas fica. Fica porque nunca vai embora por completo. Fica porque deixa uma cicatriz, uma tatuagem... Ela deixa qualquer coisa de eterno. Meu quarto está cheio do perfume dela e quando lá adentro, sinto ainda aquele gozo melancólico, fatal. Ela ressuscita todos os dias. Nada de romances eternos; ela ressuscita todos os dias ao toque das minhas mãos em meus quadris. Depois, afogado em suor e sangue, volto para o quarto. Ela roubou minha cama, minhas cenas de banheiro e desconcertou meu paradoxo. Mas ela sempre vai.

Sempre vai.

Fica porque eu te amo. Fica por eu ser um louco em te amar. Fica porque há resíduos da tua pele embaixo das minhas unhas. Fica porque, por mais que você vá, nós não estaremos longe. Fica porque o sexo é meu, mas o gozo é teu. Fica para nos unirmos de todas as formas possíveis. Fica porque eu te amo.

Fica.

PS: Desculpe ter falado de você em terceira pessoa, mas esta foi a melhor forma que consegui: Ser indiretamente direto como alguém que contempla O Nascimento de Vênus e se hipnotiza.


Domingo, 14 de Abril de 2008
Você me seduziu com aquela tatuagem de Marte no teu braço esquerdo. Só então descobri que você é canhoto. Odeio números ímpares e coisas esquerdas. Gauche, este é você. Sou destra, mas longe dos direitos e longe de ser direita. Você me atropela, me entorta, me vira pelo avesso como um guerreiro patriota dizimando a nação alheia. Te odeio pelo espelho. Te odeio por esta minha miopia. Te odeio pelas vezes que, bêbada, alcanço a tua cama e não te encontro. Depois volto mais bêbada e nos encontramos na porta da tua casa. Você, sóbrio, querendo me matar; eu, bêbada, querendo me jogar. É isso que somos: êxtase e vômito. Esta nossa carnificina sadomasoquista é o que me dá vida. Amo as palavras sujas de teus livros e tudo que elas fazem comigo. Que venham teus zumbidos e barulhos. Amo os poemas de Álvares e tua voz à luz de velas. Você é honestamente desonesto e só eu sei como o relógio reluta em não sucumbir certas noites minhas. Tua frieza é furtiva, minha insanidade cristalina. Não somos óleo e água. Somos Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Completos destroçados, metades em negros escombros.

Sim, sempre vou embora. Vou embora para não te dizer não. Vou embora para te ver sempre sóbrio, pois a bêbada sou eu, paulatina e agressivamente. Somos solitários in loco. Teus deuses me renegam e eu me rendo a eles. Sim, sempre vou embora.

Queria fugir-me... Fugir-te.

Comprei um novo quebra-cabeça. Sei bem que você é muito habilidoso com eles, eu não. Há ainda muitos espaços vazios. Fico. Fico para completá-lo. Fico para completar-me.

Fico porque te amo.

PS: Eu odeio domingos com ou sem você. Mas, ainda assim, preciso te ler em todos os pronomes pessoais de plural e singular.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Grito


Me dá raiva pensar nisso tudo. Me dá tristeza pensar que você optou pela distância. Me pesa saber o quanto poderia ter te amado. Te entreguei meu corpo e guardei minha virgindade, não a de sexo, mas de todos os sentimentos que só conheci contigo. Não digo só sexo porque isto é algo que se resolve facilmente entre mãos e imaginação. Contudo, a magnitude do amor não pode ser criada à mão como estátuas de barro, nem mensurada pela imaginação do mais brilhante poeta.

Para sempre é a mais cruel das expressões; mantêm a alma encarcerada. Para sempre é uma das promessas que fazemos somente por um prazer masoquista; só não consigo ver uma verdade nisto. A que ponto chegamos? A ponto algum. A porta continua aberta. Os amanheceres sempre vêm suprimindo sua ausência momentaneamente. Mas eu vivo, as pessoas é que acham que não. Cada um vive a seu modo, certo? Eu vivo do meu. De silêncios em silêncios preencho minhas lacunas. Te vejo pelo vidro embaçado da janela e depois saio de casa. Você sabe muito bem que a chave extra fica embaixo do tapete.

Você fez com que eu conhecesse o arrependimento; o arrependimento da confissão, da confissão do amor. Hoje eu preferiria ter me resguardado de teus beijos, dos teus telefonemas. Preferiria ter me resguardado de você. Tenho o dom de afastar as pessoas de mim. Não seria diferente contigo. Definitivamente não sou um ser digno de afeto. E não digo isso fazendo um dramalhão; é realmente o que penso. Que as almas nobres possam me perdoar. Que você me perdoe.

Me perdoa por ser tão exigente, tão intrasigente, tão instável? Me perdoa por brigar quando você não me chamava pelo nome? Mas é que ele fica tão mais gracioso quando é você que o pronuncia. Preciso ouvir sua voz e o meu nome é a única coisa que ainda possuo. Não posso exigir tanto assim de você quando quem tem que ser doar sou eu. Mas fico feliz com seus movimentos e desejos que me dão insônia. Vem, volta ou me traz de volta. Estou com saudade da nossa paz.