sexta-feira, 6 de abril de 2012

Quase 1 ano sem postar aqui...
As coisas vão ficando mais intensas e silenciosas com o tempo e as postagens causam um certo desconforto.

Jardim

Quando passei por esse jardim de luz de sol entrecortada pelos galhos das árvores e de folhas velhas, caídas, já sem vida, no chão, lágrimas de algo que não sei descrever brotam dos meus olhos. Poderíamos ser tantas coisas naquelas horas que precediam um crepúsculo cor de púrpura. No entanto, conseguimos ser somente você e eu – humanos, demasiadamente humanos, já diria o filósofo que, assim como nós, também não soube amar nem se deixar amar. A luz do sol, mesmo quando fraca, me incomoda e desfoca tudo que está ao meu redor. Talvez seja melhor assim, eu e minhas lembranças distorcidas embaladas por uma caixinha de música imaginária.

Ainda guardo uma caixinha de música que ganhei quando tinha três anos. Meu pai se embalava com aquela canção todos os dias. Talvez ele nunca tivesse aceitado o fato de eu ter crescido e acho que nem eu aceitei direito. A brisa entrecorta minha pele enquanto minha visão turva imagina um sorriso teu. Você nunca sorriu verdadeiramente nas fotos em que estávamos juntos e te ver feliz com outras pessoas era tudo que me restava. Eu consegui fazer com que você me amasse como sempre sonhei, só não consegui transformar você em meu lar. Ainda bem que você passava os finais de semana fora, assim eu teria tempo – tempo pra sentar no sofá e perceber que você, apesar de tudo, era meu pedacinho de paz. Seria possível amar e odiar alguém ao mesmo tempo e na mesma proporção?

Há tulipas no jardim, minhas flores favoritas. As tulipas são belas, coloridas e reservadas, somente uma abelha muito abelhuda consegue saber o que realmente há em uma tulipa. Você nunca soube que eu escrevo. Ainda bem porque você me diria que isso é coisa de adolescente e que preciso amadurecer. Eu acho que preciso amadurecer, mas se sequer a dor me fez ser alguém diferente, como conseguiria isso? Eu gosto de tirar fotos de pessoas que não sou e de pessoas que não conheço, pois me sinto confortável. Gosto de sorrir descaradamente embora sinta que cada dia a mais me sinto cada vez menos feliz, assim como um pássaro que canta não por felicidade, mas por instinto. Disfarçar é instinto de sobrevivência.

Há muitos pássaros por aqui, mas eu escuto uma música qualquer nos fones de ouvido. É incrível como as dores humanas são semelhantes e é incrível como as alegrias são discrepantes. Discrepante é todo esse colorido em contanto com alguém gris como eu. Eu quis ser a mais bela mulher do mundo pra você, mas eu não fui. Não fui pra mim mesma e não sei o que dizer se fui pra você, afinal você nunca me dizia nada, mas sempre achei que me acordar com beijos de manhã significava alguma coisa. A luz do sol em contato com as lágrimas causa de enorme desconforto nos olhos, mas ainda posso ver aquilo que as pessoas viam em você quando você me olhava. Elas diziam que você me amava profundamente, mas eu nunca pude ver seus olhos brilhando pra mim. Eu tentei ver teu brilho e brilhar pra você como ninguém no mundo tentou. Contudo, precisava me libertar dessa cegueira, precisava que você me libertasse dessa cegueira e acho que você lavou as mãos. O sol é somente o sol; a brisa é somente a brisa; uma flor é somente uma flor... O que eu poderia ser senão somente eu mesma? O que poderíamos ser senão nós mesmos?

Assim como esse belo jardim tem um portão de saída, eu me despeço dos lindos sonhos que tive com você como protagonista. Minha figura não pode ser nada além de triste e não pode fazer seus olhos brilharem de alegria por mim. Desculpe-me, mas agora preciso fugir, fugir de mim.