quinta-feira, 4 de junho de 2009

Curriculum Vitae

Os dias os quais eu não te encontro são enlouquecedores. Procuro tuas músicas e vídeos. Ouço-os, vejo-as e enlouqueço mais. Faço tudo isso na tentativa de não pensar em você. Não quero sequer cogitar a possibilidade de você haver se esquecido de mim. Eu preciso do teu gosto na minha língua. Preciso das tuas palavras desconexas. Preciso me lembrar que não sei agir quando estou contigo. Preciso tremer se te escuto, se te olho, se te devoro. Eu gosto mesmo é do teu peso sobre meus ombros, sob meu corpo, sobre meu tapete; isso sim me traz felicidade.

Restou um maço incompleto do teu cigarro aqui na mesa de cabeceira. Sempre odiei os fumantes, achava nojento, mas não você. Tua fumaça tinha cheiro de canela, tinha um cheiro muito pessoal. Gosto do jeito que faz com a boca quando dá tuas baforadas. Teus lábios formam um circulo carnudo, carmim, cádmio. Nunca fui muito boa em exatas, por isso sempre fui extremamente apaixonada pelas humanas. Foi você quem me ensinou toda a Biologia das coisas e me fez enxergar a anatomia das artes.

Eu te recitava os versículos de Cantares de Salomão em umas noites quentes e brancas. Enquanto recitava, você beijava a boca da garrafa de uísque. Keep drinking. Gosto de te observar, pois sei que tomarei parte daquela satisfação muito me breve. Teu olhar era um invasor que rasgava minhas vestimentas a milhares de metros. E o que falar quando dividíamos os papéis, a ciência? Nestas noites brancas e quentes tentávamos desmentir a tão famosa lei da Física: Dois corpos não poderiam ocupar o mesmo lugar no espaço. Mentira. Quem disse isso nunca amou na vida, nunca se jogou em um precipício de sedas caleidoscópicas. O romance é a melhor droga do mundo e eu era viciada na tua seiva.

Enxergava todos os matizes em tua auréola de fumaça e acreditava em todas as desventuras que teu ar alcoólico narrava. Teu som é a reencarnação das composições de Beethoven. Ainda bem que ele era surdo e não ouviria nossos barulhos. Você é um Dom Quixote e eu a Dulcinéia que se jogou na frente de teu cavalo magro e sujo. E esta é nossa História, nossa aventura e desventura. A verdade é que eu preciso de você agora, de qualquer modo, sem qualquer razão que não seja você mesmo. Preciso me sentir desconcertada por teu olhar repreendedor que me fez crescer em gênero, numero e grau. Amo tuas esquisitices como nunca amei ninguém.

Antes de a nossa desventura começar, isso tudo estava cheio de ninguéns que se foram, mas você conseguiu ser alguém. Mentiria se dissesse que sou incompleta sem você. Eu preciso de você aqui porque eu gosto. Eu te quero aqui porque o ar fica muito mais leve quando coberto pelas nuvens da tua nicotina. Eu te amo porque são teus dedos que tocam todas as minhas sinfonias de ouvido. Eu enlouqueço sem nossas noites hibernais, infernais. Ainda tem uísque aqui no bar e cigarros e um isqueiro novo. Eu comprei Volver. Então volta para tempestuarmos juntos. Tua loucura universal me consome e me revive. Eu quero morrer todos os dias só para você me levar de volta ao teu paraíso.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Querer

Talvez eu queira que você entre em minha vida bem devagarzinho. Acho que quero ouvir teus passos ao longe, mas sempre presentes. Acho que quero um querer diferente, um querer só teu. Talvez eu queira mesmo é que você me faça rir, sorrir. Que as nossas horas passem depressa nos finais de semana para me sentir feliz na segunda-feira. Quero que a saudade te construa com linhas precisas e imperfeitas. Eu quero é não esperar, nem me desesperar. Quero aprender tua simplicidade. É, eu quero mesmo que você entre devagar na minha vida...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Resposta





Quero escrever-te como quem aprende. Fotografo cada instante, aprofundo as palavras como se pintasse, mais do que um objeto, a sua sombra. Não quero perguntar por quê, pode-se perguntar sempre por que e sempre continuar sem resposta: será que consigo me entregar ao expectante silêncio que se segue a uma pergunta sem resposta? Embora adivinhe que em algum lugar ou em algum tempo existe a grande resposta para mim.

Clarice Lispector in “Agua Viva”