segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vinte e 1.

Passei os três melhores meses da minha vida caminhando nua por esses corredores repletos de flores imaginárias com aromas bem reais que viviam por nos inebriar. Era engraçado como você conseguia ludibriar minha timidez com coisas que não poderiam ser esquecidas, nem escondidas e no fundo e no raso, eu não era nada resistente a sua sedução. É nessas horas em que falo de amor que me pergunto: é possível amar e não ser piegas? Não sei. Sei somente que era impossível eu não te amar feito uma menina, feito uma mulher. E era doce, até eu me tornei doce para você.

Sorriamos, gargalhávamos e trazíamos a vida para cada vez mais próxima de nós. Dois seres intensos não poderiam ter tanta paz, mas cada vez que discutíamos você me puxava pelo braço, cabisbaixa, e me beijava. Nós construíamos nossa paz mesmo através de todas as nossas guerras. Isso não significava que era fácil; não era tão difícil, mas era tão belo ver teus olhos pequenos e amendoados me olhando chorosos, então eu te abraçava. Tais abraços tornavam-se cada vez mais intensos e longos como se quisessem carimbar cada parte do meu corpo no teu. Daí chegava o vento que, por vontade própria, encarregou-se de secar nosso suor para que pudéssemos permanecer naquela inércia amorosa e braçal. Não há maneira de esquecer nossos segundos mesmo que eles, algum dia, permaneçam em algum lugar do passado: é pelo passado que somos quem somos, que estamos onde estamos e que nos amamos como nos amamos.

Houve dias que tive vontade de ser livre novamente, de ir e vir novamente. Estive enganada este tempo, pois você era minha liberdade. Não te ter à noite é que era minha prisão. Eu era um Ícaro muito diferente porque minhas asas eram reais, porque era você quem me fazia voar. E não importa se três, quatro meses ou quarenta anos, o que importa era poder te ver abrir os olhos todos os dias e estar certa de que todas as lágrimas que chorei algum dia se transformaram em um rio cujas águas me levaram até você. Chorava de emoção pelo tempo passar e nos mantermos juntos; chorava como quem joga a oferenda ao mar em agradecimento pela benção.

Amar-te desta forma foi a maior surpresa da minha vida e não era surpresa nenhuma que meus sonhos e minha realidade eram teus. Portanto os passos eram dados e então a vida coloria-se...