quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Bonne Année






Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis,

alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca. (1)


Começaram as enxurradas de clichês. Que coisa maldita! Os blá blá blás me irritam profundamente nesta época, pois parecem atípicos demais. Uma vez ouvi que os clichês, às vezes, nos livram de situações cujo controle nos foge às mãos. E, mais uma vez me pergunto: Quando temos o controle? O falatório continua. Contudo, este final de ano nem ao menos as gavetas consegui arrumar. Maquiar defuntos não é tarefa agradável e já que estão mortos mesmo, preferi deixá-los como realmente são e estão. Claro que todo ponto de vista é a vista de um ponto, mas e daí se sou míope? Provavelmente, só num mundo de cegos as coisas serão o que verdadeiramente são. (2)

Por falar em miopia, me lembrei do Bernardo. Ele era uma figura. Um ser compreensivo e, por vezes, meigo até demais. Mas o que isso importava se eu gostava dele mesmo assim? Experimentei várias coisas com Bernardo, desde álcool até ciúmes comedidos. Nos falávamos todos os dias ou, pelo menos, quatro vezes na semana. Cheguei a nutrir certo amor platônico por ele que foi assassinado por uma distância fatídica. No final nem paixonite, nem amizade. O elo se quebrou e a última coisa que soube dele é que foi morar em Brasília depois de romper relações com os pais e as irmãs. Achei muito estranho. Mas a política socialista de Cuba também era e eu não morri por isso.

O pior para mim é ainda amar você. Sim, você. Não cito nomes porque não quero ficar ouvindo seus ecos; eu não mereço ficar ouvindo sua voz. Algum tempo atrás você disse que nós seríamos para sempre. Eu sempre achei que para sempre e nunca abrangiam tempo demais. Mas que seja infinito enquanto dure. (3) Portanto pedi que fossemos mais devagar. Você citou um de seus autores favoritos dizendo que o amor era para ser vivido até a última gota. Golpe baixo. Acreditei. A esperança é pressuposto do amor e vice-versa. Você é fraco porque deixou eu te amar. Eu te amei. Eu sou mais fraca por ter te amado. Eu ainda te amo. Ele era triste e alto. Jamais falava comigo que não desse a entender que seu maior defeito consistia na sua tendência para destruição. (4) Mas, e daí? Continue passeando por aí usando seu Ray Ban com todo aquele ar de quem não se importa em importar-se. Continue levando esta merda toda, empurrando tudo isso com a barriga. Só não me olhe amorosamente e atenda as minhas ligações e pare de implicar com meu vício por chocolate.

Por falar em gula, ontem ganhei de presente uma caixa de bombons. Estes com recheio de mouse de maracujá. Delicioso, porém esquisito. O que seria a mistura de chocolate com maracujá? Ecstasy e Gadernal? Comentei isso com uma amiga muito querida, a Fabiana. Ela me ligou ontem, após algum tempo sem contato. Matei um pouco das saudades da risada alta dela. Fabiana sempre teve o dom de me alegrar e não haveria de ser diferente agora. Conversamos sobre tudo, como sempre. Foi sensacional senti-la feliz. Está casada e teve um casal de gêmeos univitelinos e isto era algo que Fabiana jurava não fazer nunca: casar, ter filhos e uma casa branca e barulhenta. Pouco importa, na verdade. A única coisa que sempre quis era ver toda aquela tristeza que ela tinha no olhar se dissipar. Consegui sobreviver para admirar tudo isso e torcer para que, um dia, sentisse o mesmo. Eu e ela sempre conversamos sobre tudo; sexo, drogas e rock’n’roll. As divagações eram tamanhas e não poderia ser diferente no que tange meu comentário sobre o chocolate e o recheio. No final chegamos a um denominador comum: chocolate dá o maior tesão. Nos despedimos. Mas as despedidas entre Fabiana e eu nunca eram tristes.

Meu quarto estava uma bagunça e eu estava com uma preguiça antagônica a vida. Odeio Física e as três leis de Newton, mas o que odeio mesmo é a inércia. Puta que pariu! Estava muito calor e todos estavam felizes. Como alguém consegue sobreviver a este inferno? Saí do meu corpo e me empurrei; levantei. Inferno astral. Comecei a organizar as coisas de forma superficial. Não sei se algum dia conseguirei transpor esta barreira, mas o importante é, ao menos, parecer organizado. Todos têm orgulho de mim, preciso me manter neste patamar. A razão da pseudo organização era André. Ele nunca me trazia chocolates, André é o chocolate em si. Ele falava pouco, mas era conciso. Curto e grossamente nem me perguntava, também não me dava tempo de uma auto-indagação, fazia e ponto. Nunca reclamei, até gostava. Gostava muito mais por André ser o tipo de cara com quem eu poderia passar quatro horas conversando ou quatro horas de quatro, sem cobranças. Nos dávamos bem de qualquer forma e em diferentes posicionamentos sem necessariamente concordarmos. Puro behaviorismo. Tanto os estímulos quanto as respostas eram excepcionais. Nos veremos novamente em breve, se não estiver realmente apaixonada por alguém.

Tenho uma amiga que sempre fala de amores comigo. Coitada, amou demais, recebeu de menos. E que ninguém venha com aquele papo de que o amor é desinteressado até mesmo do próprio amor. Ninguém ama sem ser correspondido opcionalmente; até que me provem o contrário. Apesar disto Diana cultivou em si uma doçura admirável. Costumava viajar bastante, independentemente de sair de casa ou não. Quando saía, sempre me trazia um anjo de porcelana; todos graciosíssimos. Não tinha coragem de deixá-los ao vento e na poeira. Portanto, guardava todos eles em uma caixa: Lindos e delicados como ela. Diana é uma das pessoas que me trazem esperança e cheiro de violetas. É uma das poucas pessoas quem tem valido a pena. Digo isto porque nos últimos tempos muito poucas pessoas tem valido a pena e minhas noites de sono. E mais uma vez me vem um pseudo autorzinho qualquer dessas porcarias de auto-ajuda e diz: O importante é quem você é e não o que as pessoas dizem. Ou, o importante é o que está em seu interior. Portanto, nunca deixe ninguém te pôr pra baixo. Ok, ok... Isto pode até ser verdade, mas não sei até que ponto as pessoas podem ser tão avulsas e tão desimportantes assim na vida de alguém. O que fazemos com a máxima de que somos seres sociais e sociáveis? É possível estar aquém quando se convive com pessoas diariamente? Bem, se algum ser conseguiu tal conquista, peço que entre em contato comigo pelo Orkut.

E por falar em contato, faz tempo que não vejo Verônica. Nós costumávamos ser muito próximas e gosto dela, de verdade. Nosso afastamento foi deveras estranho; nem saberia discorrer a respeito. Todavia, seria muito desleal de minha parte se dissesse que não estava um pouco enjoada dela. Odeio gente que vive em função de uma coisa só. Verônica vivia em função do namorado. Lamentável situação porque ela é muito inteligente, não neste aspecto. Não sei se era algum espírito famigerado, mas algo a dominava e ela não fazia nada alem de trepar, é claro, e pensar no bofe nas horas livres. Se o cara lesse o manual de como tocar uma punheta, ela lia também, somente por ele. Por ela mesma muito pouco... Quase nada. As leituras de Chomsky e Schopenhauer ficaram de lado. Nossa amizade chegou a um ponto quase Kama Sutra. Verônica me contava o que fazia e eu ouvia calada e até com certo nojo. Ora, isso não me interessava. Para mim me bastavam as minhas experiências ou, se quisesse ver sexo com terceiros, alugaria um filme pornô. Nada contra voyeurismo, mas isso e amizade não combinam para mim. Nos afastamos por motivos não muito claros, mas sexo e amizade não competem entre si. Ela vive me dizendo que não a procuro mais. Eu cago e estudo ao mesmo tempo e o meu telefone também não toca. Ah, quer saber... Vai se foder, concomitante e denotativamente. Espero que seja bem satisfatório porque eu estou satisfeitíssima.

Satisfação garantida. É isto que Rafael gera em mim. Ele é um daqueles homens lindos com três namoradas e que usa todo o charme para pegar muita gente aleatoriamente. Nos conhecemos a três meses atrás. No começo fiquei bem interessada nele. Bastaram algumas horas para eu ter certeza absoluta de que ele é um babaca completo. Praticamente um boneco inflável, daqueles que vem com acessórios e tudo. Me divirto. Testo meu poder de sedução, viro as costas e vou embora. Rafael sempre volta com uma esperança adolescente e eu me divirto. Contudo, ele nem desconfia. Avisei que ele era um idiota.

Às vezes me pergunto se não sou uma filha da puta ou será que é justamente este o problema: Deveria ser uma. O ar está pesado ultimamente e não estou falando de efeito estufa, aquecimento global. Me perdoem os ativistas do Greenpeace. Juro que desligo as luzes e torneiras quando não estou usando e só uso duas folhas de papel para secar as mãos. A questão é que hoje não estou com saco para falar de coisas nobres. Sou egoísta. Sou mesmo. Quem não é? Acho que as pessoas seriam mais felizes se assumissem isso. Todos dizem que não são e matam por ciúmes. Nunca vi ninguém rejeitar um milhão de Euros porque há crianças passando fome na África. A Jolie por mais legal e solidária que seja tem três mansões, um rancho, alguns carros na garagem, casou com o Brad Pitt (Sorte a dela!) e não com um angolano pobre. Adoro a África e a Jolie, que fique bem claro. Não quero dizer que ela está errada, muito pelo contrário. O grande problema é que as pessoas não assumem suas escolhas. Jolie é rica e decidiu ajudar, portanto dá a cara à tapa. É uma escolha. Somos todos hipócritas, a questão é como isso se intensifica. Se alguém escolheu ser piranha. Ótimo. Decisão própria. Só não banque a mais virgem e casta de uma estirpe. Este povo não entende que a pena é o pior dos sentimentos e que não sentir nada é pior ainda. Meus brônquios se abriram neste momento.

Estou no ônibus. Então, ouço uma dupla inusitada: Caetano Veloso e Roberto Carlos. Indago que porra é essa. Não sei o que é pior, se banda de “rock” Emo com dor de cotovelo ou esta dupla. Cacete, tenho que parar de xingar, mas é difícil. Palavrões são processos catárticos em tempos caóticos. Será que Focault explica? Fones de ouvido. Autismo em ação. Mais uma etapa parece terminada, a não ser pelo beijo que espero desde meus quinze anos. Todavia, consigo conviver sem isso, sem ele... Consigo mesmo. Não que sinta ódio. Todos temos um passado. Não me arrependo de nada que fiz. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui. (5) Hoje de manhã, antes de sair, reli o e-mail da Verônica, tentei ligar para o Bernardo e escrevi o nome completo dele no livro que estou lendo (“Histórias de Amor”, Rubem Fonseca). Tudo no mundo começou com um sim.(6) Eu digo sim a cada segundo, a cada toque e mantenho todos os telefones na agenda do meu celular. Quem sabe algum dia. Quem sabe algum dia construa coisas novas com as velhas pessoas. Por agora preciso me reconstruir. A chuva cai pela janela e a música alta me deixa cada vez mais surda.

Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas. (7)

Luz. Depois da freada brusca do ônibus, a cidade ficou mais bonita e iluminada. As lágrimas secaram. Estou leve. Posso voar. Sentirei falta, mas quem sabe um dia?! Sem cronologismos... Qualquer dia basta.



1, 7- Os Mortos de Sobrecasaca. Carlos Drummond de Andrade In Sentimento do Mundo
2- José Saramago In Ensaio Sobre a Cegueira.
3-
Vinicius de Moraes In Soneto de Fidelidade.
4- História Interrompida. Clarice Lispector In A Bela e a Fera.
5, 6- Clarice Lispector In A Hora da estrela.

sábado, 8 de novembro de 2008

O último

”Vou-lhes contar um segredo: a vida é mortal. Nós mantemos esse segredo em mutismo cada um diante de si mesmo porque convém, senão seria tornar cada instante mortal.”¹

Para Zeca, meu titio carequinha.


Estou na última página de mais um romance que chega a seu fim. Parece estranho que esta vida tenha que terminar após tantos anos de trabalho árduo para construí-la. E o mais estranho ainda é continuar lutando por ela, tal qual gladiador que enfrenta a fera muito mais forte que ele. Acabou. E o que fica para quem ficou? Talvez a certeza de um pacto de carinho feito outrora. Talvez o entardecer de vários domingos. Talvez o cheiro do cabelo. Talvez o tom de uma voz grave. Talvez uma parte da vida.

O último a me chamar de menina calou-se eternamente. Junto com ele, a menina também emudeceu. Agora a mulher guarda as lembranças de seu andar prejudicado por um desses acidentes que acontecem ao caminharmos em alguma estrada desta vida. Suas mãos não tinham muita força para segurar as minhas, mas eram suficientemente calorosas para me abraçar. A mulher continua a procurar-se por tais estradas que deixastes para trás e guarda todos aqueles abraços que foram reservados a ti.

Deixastes muitos órfãos; irmão, principalmente. Contudo, há certas alegrias que não morrem jamais. E é na perda que até os xingamentos são esquecidos. Se o tempo é ou não justo conosco, eu não sei. Acho que nós mesmos comentemos as maiores injustiças contra nós e contra o tempo. Não importa, Julho ainda é teu. Desejar-te-ei felicidades todos os anos, não em aniversários, sempre soube que não era uma aficionada por calendários, mas felicitações por tudo que construístes. Caso contrário não haveria lágrimas neste dia; tanto que hoje o sol nem nos sorriu.

¹Clarice Lispector in “Tempestade de almas”

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Claras incertezas



Não estava bem; não estava definitivamente bem. É com esta afirmação que tentarei tecer uma história ininteligível e indefinível.


Ela queria, não, para dizer a verdade, ela não queria. Parece que o não-querer havia se tornado parte de algo que não saberia explicar, pois era maior que todos os desejos guardados lá dentro. Dentro do ônibus, fones de ouvido, olhava as pessoas lá fora, mas não fazia análise alguma. A música a dominava, embalando o pseudo equilíbrio de seus sentimentos. Não era uma questão de encarar, mas de deduzir. Clara deduzira que havia chegado a um ponto ainda não ideal, mas suficientemente firme para não mais tropeçar nos paralelepípedos desta rua que a acompanhara desde sempre.

Esta rua larga, sem calçadas, não lhe dava nenhuma opção de desvios. Contudo, quando em vez, um estranho de olhos castanhos tão familiares, desviava-lhe o caminho. E ela ia. Ia porque a música alta evitava que Clara ouvisse o próprio grito desesperado do não. Sapatos elegantes calçavam-lhe os pés cansados e cambiantes. O batom vermelho denotava todos os desejos presos, como um grito mudo, em sua garganta. Ia porque gostava de caminhar. Então Clara caminhava doce e desesperadamente como um filho procurando o pai desconhecido.

Olhos cor de mar. Por vezes ela sentia-se parte dele, parte daquela imensidão sem dono, sem mundo, sem fundo ou tão profundo que era impossível alcançar-lhe o fundo. Clara sempre achou que o mar era triste. Deve ter sido por isso que Deus lhe deu olhos da exata cor do mar. O mar era triste? Sim. Era triste, pois para tal imensidão, não houvera gente apta a lhe render descobertas e, aqueles que nunca quiseram tentar, despejavam seus restos mortais. O mar carrega um peso incomensurável, assim dizia Clara.

Sempre gostou de ler. Ninguém nunca entendeu isso porque a leitura nunca lhe foi apresentada. Clara havia descoberto tal doce sabor sozinha. E era justamente sozinha que gostava de ficar enquanto lia. Sentava no chão, atrás da porta, ligava uma luminária e lia. Por vezes adormecia por lá mesmo. No dia seguinte Clara não sentia nenhum tipo de dor física, pois as doces palavras de seus autores favoritos serviam-lhe de analgésico. Acordava, só não sabia se estava pronta para mais um novo dia, mas acordava.

A verdade é que Clara tinha medo, muito medo.

Passou toda a vida tendo muito pouco. Mesmo que junto, estava separada. Vivia épocas diferentes durante a década de 80. Era romântica em seu interior. Contudo, com o passar dos anos, não se permitia mais divagar; tentava fazer de seus sonhos os mais objetivos possíveis. Daí começou a acreditar na velha sabedoria popular de que a cruz nunca é mais pesada que o limite pessoal do suportável. Por isso era exagerada. Sentia a dor e o amor, alegria e tristeza transbordando seus extremos. Transbordando como maré em dias de tempestade.

E nesses transbordamentos latentes, cada dia a mais, cada vez menos aquele reflexo no espelho parecia-lhe familiar. Mas, como enxergar-se quando o grande mal é uma cegueira negra sem precedentes? A verdade é que Clara tinha medo, muito medo e se tateava em meio as suas coisas e causas perdidas.

E foi em uma dessas noites sujas e nojentamente frias que Clara deparou-se na beira da praia. Os comprimidos já sem efeito ficaram jogados no tapete do quarto, um casaco preto e longo e um reflexo conhecido na imensidão verde.

Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.

Permita que agora emudeça
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio,
e a dor é de origem divina.

Permita que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo
e aprenda a ser dócil no sonho
como as estrelas no seu rumo.¹

Se é nas origens onde as grandes verdades habitam, Clara conhecia todas agora. Se a solução dos problemas é apaixonar-se por si próprio, Clara esclarecera qualquer sombra de dúvida sobre todos os aspectos, pois, tal qual Narciso, lançou-se rumo a si mesma. A imensidão verde do olhar de Clara nunca pareceu tão serena, pois fechados, não procuravam mais nada.

Se Clara encontrou as respostas? Bem, a única certeza possível é a dúvida.

¹Serenata (Cecília Meireles)

domingo, 2 de novembro de 2008

Ao amor de uma noite qualquer...



Do amoroso esquecimento

Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?¹



Haveria tanta coisa que eu queria te dizer: tantas declarações idealizadas por este meu amor sem nexo, sem sexo; tantas carícias de um amor renascido no tempo me fogem às mãos em total desordem cronológica. Esta não-lógica do que você é desafia o meu antes íntegro, inteiro intelecto. Esta não-ordem que me causa tua lembrança me faz feliz em meio ao caos de tua ausência. Remoer passados parece fazer parte de mim. Não consegui preparar teu velório, nem divulgá-lo. Então, mais uma vez, a certidão de nascimento desta loucura torna-se válida sem prazo de término.

Tal qual sommelier, bebo-te em goles lentos e degusto teus sabores em cada líquido que venha saciar minha sede. Busco-te em minhas letras tortas e em meus livros suicidas como remédio incontestável, infindável, atemporal. Acho que você tornou-se minha esperança. Agora eu sinto, pois, outrora, eu era dormente. Você é quem me invade as entranhas e me preenche, me seduz sem nem ao menos estar por perto. Daí eu te procuro, te escavo e te encontro aqui dentro, te ressuscito. Como uma relíquia, acalento este amor cuidadosamente em meus braços e rapidamente nos tornamos um.

Não sei mais quem sou; não sei mais quem sou se não me arrepiar, se não mais te encontrar. Necessito do nosso encontro, pois, assim como a lua parece descer e transbordar-se pelo mar, quero me afogar docemente em você. E se eu te dissesse neste momento que eu te amo, o que colheria de seus olhos? Brilho? Desesperança? Não sei. Não sei. O não saber dói. O não saber escraviza. O não saber mata a alma.

Releio-te em meus cadernos e passo a ter certeza que tenho te amado desde aquela data que nem sequer me recordo mais. Um dia que fugiu ao tempo não por não ser pouco importante, mas por ser tão especial e lindo que os calendários tornaram-se insuficientes para marcá-lo. O amor não é um trem que possui hora e local exatos para chegar e partir. O amor é um trem arrebatador que nos puxa para o seu interior e não nos deixa saber quando e onde parar. Agora sou passageira de um trem batizado com seu nome e sobrenomes. Acolhe-me; não me deixe mais sair. Peço-te: dá-me tua passagem só de ida ou, se preferir, volta comigo.

¹Mário Quintana In "Espelho Mágico"


domingo, 12 de outubro de 2008

Deriva claustrofóbica


“É como se a gente não soubesse pra que lado foi a vida, por que tanta solidão. E não é a dor que me entristece, é não ter uma saída, nem medida da paixão...” ¹

Decidi arrumar a casa. Decidi não mais tropeçar em você, nem escorregar no piso liso da tua pele ou ver-te nos quadros pintados a óleo.

Comecei pela sala. Lá encontrei aquele DVD que compramos em um domingo desses e nunca tivemos tempo de assistir. O quarto ainda exalava o cheiro vindo da camisa social que você usou na nossa última vez. Sabia que seria uma faxina difícil; e era indubitavelmente. Senti fome; fome de mim, de comida, de você. Água no fogo. 100°. O café desta vez não era nosso. Usei sua xícara com pouco açúcar.

A caixa que separei para guardar as lembranças já estava cheia. Onde guardar? Não podia deixá-la embaixo da cama; era grande demais. Era grande demais para mim e sua simples existência já era por si só claustrofóbica.

Se era faxina, que fosse de verdade. Tomei banho. Um banho bem diferente dos usuais; um banho rápido e simples. Sem muita espuma, nem importantes fragrâncias. Coloquei uma blusa branca qualquer só porque você não gostava de branco. Não quero nada mais disso tudo que restou; não quero mais nada daquilo que não construímos. Não quero mais suas esperanças e seus eu te amos que dão voltas nas vinte e quatro horas do dia e chegam a lugar algum. Não, nunca, jamais e todos os advérbios de negação possíveis em todas as línguas que você fala. Queria lavar minha alma de você.

Que vá, que vá para longe e não dê mais notícias. Não quero saber das mulheres que entram em seu carro nem de seus passeios. E daí que sob sua ótica o céu de Londres estava lindo? Não. Esta é a única resposta da qual tento me convencer no momento. Tomara que em seus longínquos caminhos você não precise olhar para trás. Todavia, se precisar, espero que o dia esteja nublado, tão foggy quanto as manhãs londrinas. Quero uma cortina de fumaça entre nós.

Guardei tudo em uma caixa: seu discurso, o Big Ben, o Bentinho, a Capitu, El Libro de las Preguntas, as fotos de paisagem, suas mesóclises e ênclises e seu francês fajuto. Pedaço por pedaço, queria te desovar naquela caixa; acho que consegui. Saí apressada e cansada; tudo estava bastante pesado. Pesado meu corpo que carregava a caixa. Pesada a caixa que levava minha alma.

Parei na ponte de uma praia qualquer. Em frente brilhava aquela imensidão poluída de um mar outrora cristalino. E logo atrás havia todas aquelas buzinas, propagandas políticas e a gente que muito via e pouco enxergava, apressava-se neste vai-e-vem tão complexamente simples. Embaixo da ponte, pescadores limpavam o peixe recém pescado que estaria bem cedo no mercado municipal. Será que eles são felizes, indaguei. Não sei. Mas quem é feliz? Acho que ninguém, respondi. A retórica é minha perdição. Perdi o foco. Voltei. Voltei ao nosso enterro de ossos, ao enterro do esqueleto deste amor caduco. Prometi a mim mesma que jogaria tudo fora; tudo bem amarrado ali dentro.

Vivo me fazendo promessas vãs e mais uma vez não consegui. Desfiz o nó e refiz aquele lá na garganta. Peguei nossa foto, a foto mais bonita, a que tiramos em Vancouver no nosso último verão juntos. Admirei teus olhos grandes e negros que, às vezes, não parecia combinar com tua pele clara. Contudo, eram eles os que eu jamais quis ter que esquecer. Quebrei mais uma promessa, a de não chorar mais. E duas pequenas lágrimas rolaram do canto do meu olho direito. Deixei que o vento as enxugasse. Afinal, venta muito na primavera.

Um pescador, um senhor de idade, me observara sob a ponte. Preocupou-se e em um gesto nobre veio perguntar se estava me sentindo bem. Sim. Claro, respondi. Ele olhou-me profundamente e disse: “As feridas da alma são assim mesmo, menina. Demoram.” Sorriu e saiu. Ele tinha razão, mas por hoje é só; estou só.

Havia levado um frasco de uma substância inflamável qualquer, mas desisti de atear fogo na caixa. Lembrei das histórias sobre garrafas que eram jogadas ao mar com uma mensagem de amor dentro. Decidi jogar a caixa com tudo, com o nó cego no mar. Pensei que, talvez, algum poeta grego pudesse encontrá-la e decidir escrever uma ode. Ou que servisse de fôlego para uma declaração de amor mar afora. Ou fizesse um marinheiro lembrar de sua esposa e filhos que o aguardam ansiosamente no lar. Achei que, jogando a caixa, poderia ajudar alguém; poderia ajudar um amor como não pude ajudar o meu. Parece que quando o amor não é mais recíproco, deixa de ser egoísta e torna-se altruísta. Ah, sei lá, deve ser mais uma das minhas teorias malucas que surgem de uma epifânia e se vão junto ao vento.

Joguei. As lágrimas ainda não haviam secado. Levei um tempo admirando nossa vida agora náufraga. Virei às costas com a conclusão de que somos todos tolos. Afoguei a matéria, mas a alma continua viva, à deriva.

¹Música: A medida da paixão. (Lenine e Edu Lobo)

sábado, 11 de outubro de 2008

Outubro

E vinham todas as épocas, todos os meses de todos os anos e você parecia-me cada vez mais distante. Os outubros vindouros nunca mais foram os mesmos sem a possibilidade de amar-te novamente. Era um desejo doído; uma ânsia sufocante. O medo de te ter por perto sem te ter, a alegria de teu rápido fitar eram minhas esperanças. Este meu amor paradoxal nunca me permitiu abdicar de mim e menos ainda de ti. Todavia, é este mesmo amor que quer jogar-se no precipício de teus abraços e lançar-se na fogueira de teus beijos. Sinto um gosto de amor de não-sei-quê, surgido não sei de onde; só tenho certeza que foi em uma dessas noites estreladas qualquer à beira-mar.

Olho para o céu e vejo um daqueles meteoritos que outrora afirmaram conceder desejos. Não, não é a nossa estrela, mas você é o meu pedido. Pouco importa uma única estrela se teu olhar é o céu. Aos sábados só me é permitido sonhar contigo; é praticamente uma ditadura deste meu coração insano. No domingo é como se cada voz ao telefone fosse a tua. Então, fecho meus olhos cegos, cansados de tuas rápidas aparições e me embalo nas antigas canções de jazz.
Nesta vida tem-se muito pouco e não sei como você tornou-se tanto assim. Amanhã inicio uma nova semana de um novo mês: Outubro; o nosso mês. E assim eu te quero, assim eu te amo e assim eu te espero. Quem sabe você não volta esta semana, quem sabe semana que vem, quem sabe a outra. Só sei que o céu de outubro é muito mais belo por seu teu, meu... Nosso.

domingo, 7 de setembro de 2008

O triste

Guardou esta manhã
para chorar longamente,
o que não fazia há muito.

Não porque setembro,
não por um fato específico,
um isto que fosse. Ou,

de tão antigo, seria um motivo que
não recordava e agora o hálito de seu abraço
frio e sem rosto?

Guardou, para tal manhã,

olhos e boca. Mas o rápido,
repentino sumo de uma luz

pelas frestas veio dar nos livros,

o telefone, crianças lá fora, jornais
e talvez, e ainda.

Manhã tão breve.

Quem sabe, depois, outubro.
Hoje não houve tempo.


Eucanaã Ferraz - Rua do Mundo

sábado, 6 de setembro de 2008

Olimpo

Se tiverdes que vir, que venhas de verdade. Que abra as portas como verdadeiro dono da casa. Não quero aluguel. Quero papel timbrado e firma reconhecida pelo coração. Se realmente me amas, joga fora essas reservas; deixe que teu rio transborde dentro de mim. Quero tua história, teu berço, teus lençóis e datas tristes. Navegarei em teus mares, deitarei em tuas planícies, desbravarei tuas florestas e escalo teus montes em um contato despudorizado com tua geografia.

Se tiverdes que ser meu, que sejas por inteiro. Que venhas com toda força e todo verso; quero te sentir comigo e dentro de mim. Não quero só teus sorrisos de canto, quero o céu e o céu da tua boca. Se quiseres gritar, grites. Mas prefiro teus sussurros ininteligíveis ao pé de meus ouvidos. Cantarei tuas cantigas de amigo e teus versos livres. Quero a prosa consistente e tua poesia ardente em qualquer língua. Quero a biologia com todas as fusões e difusões e a matemática do um e um que se tornam um.

Se tiverdes que semear, que te espalhes por todos os meus campos. Que tuas borboletas pousem em todas as minhas flores e reluzam. Não quero os buquês de rosas, quero tuas sementes. Se pretendes fazer colheita, traga teus ventos e maremotos; não quero só tua calmaria, mas teu vigor de agricultor. Quero tua vida latejante nascendo em meu norte; quero-te nos pontos cardeais do meu corpo. Quero a beleza de Vênus e a sedução de Eros. Quero um Olimpo teu e
meu.

domingo, 3 de agosto de 2008

It's over!




And the award for the best liar goes to you for making me believe that you could be faithful to me. But it's over now.


I don't believe anymore...

Amar e malamar. Amar e desamar.


Existe algo além deste céu gris, além deste pseudo-amor, cujas migalhas foram somente o quê você pôde deixar cair para eu me alimentar. Além de tudo isto estou eu, está minha alma. Meu coração, mesmo que partido, ainda bate forte. Aprendi que qualquer caco, mesmo que sejam pequenos os pedaços, têm fibra e corre uma vibração elétrica que tenta agitar-me. Meus olhos ainda guardam teu reflexo. Contudo, não és mais o que vejo ao acordar ou aquilo em que sonho ao dormir. Escapo da tua imagem seja ela viva ou em pensamento. Quando ver dói, viro meus olhos para observar outros movimentos e paisagens. Nestes eu não te encontro; não te encontro em meus horizontes. Não te dedico mais as linhas de meu caderno nem meus perfumes. Não cultivo mais os porquês e olvidei todos os questionamentos que outrora quis te fazer; não quero que ocupe nem mais um milímetro das minhas dúvidas e pensamentos. Após você, há a minha vida e foi este o presente que você recusou, mas que eu cultivo com exímio carinho.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Ela, as janelas e Ele

“E ninguém é eu, e ninguém é você. Esta é a solidão. ”¹

Nem sabia por quê escrevia. Havia escrito tanta coisa e nem se importava com elas, pois não mais havia um alguém para dedicá-las. Sentia que tudo era em vão. As flores não floresciam com as mesmas cores brilhantes de antes. As folhas avermelhadas e grandalhonas não mais serviam como marca-página do livro favorito. Ler; não lia mais. Não mais pegava sol, nem sentia a brisa.

Sentada ali, magrinha como uma menina, passava dias inteiros. Ninguém entendia. Aliás, ninguém nunca entendeu. Encontrou naquilo sua fuga: na neutralidade. Escrever era seu purgatório uma vez que o céu nunca conhecera e não queria voltar ao inferno.

Escrevia.

As grandes janelas sempre ficavam abertas, pois assim podia assistir o mundo. Aquele mundo todo de gente apressada pra lá e pra cá. Observava uma obra de arte e seus autores em movimento. Os olhos grandes e castanhos pareciam estar constantemente assustados. Ouvia um barulho e tremia, gelava. Era então que a caneta parecia ganhar vida e compor sinfonias inteiras naquele caderno sofrido. Passavam-se horas. Vivia. Respirava. Aqueles minutos eram como oxigênio para alguém ofegante.

Ofegava, escrevia e com os olhos encharcados observava a moldura viva bem em frente. Escrevia. Não chegou. Não chegava nunca. Não voltava nunca. O amor não ia embora nunca. Nenhum daqueles barulhos era o barulho dele.

A estação com raios de ouro ultrajantes chegava para depois as grandes folhas espalharem-se nas ruas deixando os frutos à mostra. Os ventos cortantes cediam lugar à sedução dos perfumes florais com seus coloridos. Ela observava, chorava. Nenhum daqueles barulhos era o dele.

Silêncio.

Observava. Dispersa a vida passava como aquelas pessoas na rua, contrapondo-se ao ideal, ao real, ao visceral e ela, sentada, observava e escrevia. Contudo, com o passar das horas e dos passos, cada palavra naquele caderno tornara-se mais e mais incoerente. Mal sabia que a vida é feita de passos construídos pelos segundos e não andar era suicídio.

Observava e escrevia e nada mudava e o amor não voltava. Assim, cada dia era uma pequena morte e ficava cada minuto mais longe de si mesma e daqueles barulhos que nunca eram os dele.

¹Clarice Lispector In: "A descoberta do mundo"

terça-feira, 1 de julho de 2008

Pra ser sincero o meu remédio é te amar, te amar

E eu te amo antes mesmo da ciência disso;

Naquele dia em que teus dedos passaram por entre meus cabelos, empurrando minha cabeça para trás me fazendo fitar em teus olhos, quando derramei algumas lágrimas por pensar que não seríamos mais possível.

E eu te amo desde sua fonética ora desengonçada;

Em todos os livros que encontro um mocinho-vilão que rouba o coração da mocinha e no antigo cachecol sinto teu cheiro e é este mesmo que procuro pelos corredores adentro.

E eu te amo em todas as conjugações verbais;

Desde o primeiro sorrir, sem ao menos perceber, era você que sempre estava lá.

Mais imperceptível foi ainda, nos intervalos matutinos para o café, o te amar.

E eu te amo!

domingo, 22 de junho de 2008

Quando o inverno chegar

Para Marina, minha prima.
“Mrs. Dalloway always giving parties to cover the silence.”¹

São esses silêncios que nos acordam desesperadamente em um domingo desses e nos fazem relembrar, reescrever. Sempre gostei dos silêncios como forma de auto-análise e como remédio temporal. Contudo, o silêncio que guardo hoje é pela tua não-presença. Nestes silêncios consigo ouvir tua risada alta e ver as mesmas cores de quando nos escondíamos no armário tempos atrás. E das coisas que deixei lá dentro uma delas é você, guardada em uma caixa de porcelana inquebravel. Descobri nesta trajetória que os diamantes não são as únicas relíquias duradouras desta vida. As lembranças também são eternas na fugacidade da existência e mesmo que eu dê muitas festas nestes trezentos e sessenta cinco dias que contemplam um ano, você será sempre convidada nem que seja para dançar aquela valsa lenta e muda que posso te dedicar. As rosas amarelas guardam teu cheiro e aos domingos elas perfumam mais. Tenho medo destes dias que iniciam uma nova semana, tenho medo do que eles possam fazer comigo. Todavia, era quando mais brincávamos e nos escondíamos. Hoje isso tudo mudou; nossas vidas mudaram e para alguém como eu que não possui diamantes, só me restam estas lembranças da chegada do inverno. Portanto, aqui estou eu te dedicando o mais singelo da minha alma: minhas saudades.

¹Richard, personagem de Ed Harris no filme “The Hours”.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Gotta say...




And I STILL don't believe that anybody feels the way I do about you now...

domingo, 15 de junho de 2008

Volúpia

Eram dez horas da noite daqueles dias ambíguos. Daqueles dias que não fazia nem calor, nem frio. Naqueles dias meu coração não parava, não mais sabia o que sentia. Foi assim que me vi caminhando por uma dessas ruas qualquer e me flagrei, parada, em uma dessas esquinas duvidosas de uma rua que não se sabe o nome. Não sabia nem o meu nome. Contudo, queria esquecer o teu. Teu nome ecoava entre os intervalos quase que agonizantes da minha respiração. Era como se pudesse te ouvir nestes entremeios, sentir tua língua no meu colo e suas mordidas latejando em meus seios.

Lembrei-me de Shakespeare, soneto 116: [Love] is the star to every wandering bark, Whose worth’s unknown, although his height be taken.

Olho para o céu. Procuro nossa estrela. Não, não eram estrelas; eram seus olhos as fontes de luz de todas as noites. Aliás, todas as noites são tuas. Não existe noite sem teu cheiro, sem teu colo, sem teu sabor, sem tua saliva. E se não há noite, os dias se tornam dormentes. Hoje está calor. Bem, não sentia calor há dez minutos atrás. Mas tua lembrança me aqueceu de forma tão arrebatadora que poderia até ouvir nossos sussurros e uivos e gritos e todas as declarações.

A barraca que vende sorvete estava aberta. Comprei um sorvete. Sorvete de chocolate, da cor da sua pele. Era do gosto da tua língua. Olhei para os lados, só a vendedora estava ali comigo. Não, não comigo; ela estava ali naquele lugar. Acho que eu era a única louca a degustar, saborear um sorvete em uma noite tão fria. E se o fazia era por causa do calor que me transbordava. Torcia para não encontrar ninguém conhecido. Não queria dar satisfações, nem responder perguntas. Toda pergunta feita em momentos inoportunos se torna idiota, pelo menos para mim. E aquele momento era teu.

Meia-noite. Mais uma noite. Uma noite a menos?

Volto para casa. Essa casa que é minha, mas que está muito mais cheia de ti que de mim mesma. Tomo um banho e tuas mãos continuam ali; a água escorre violentamente em meu corpo e as tuas mãos continuam ali. Coloco um perfume estratégico em um lugar quase invisível e penetrado somente por suas narinas. Todavia, não consigo sentir nenhum outro cheiro que não seja o teu. Volúpia. Esta palavra não saia da minha cabeça. O lençol da cama era vermelho. Não te encontrar ao meu lado era me arrancar o âmago dos prazeres, era não me sentir, era não mais desfalecer cansada em teus braços, era não mais cravar minhas unhas curtas em tuas costas.

Mas não consigo ficar parada. Não consigo suportar este oco eco que escuto ao gritar teu nome. Procuro-te em outros corpos. Quem sabe um dia eu te encontro ou me perco de vez.

Passionfruit

Hoje resolvi tirar o dia para observar. Talvez tenha feito isso porque tudo que desejei hoje era ir para casa, tomar um longo banho frio sentada no chão do box, vestir uma roupa leve e sair. Sair, mais precisamente ir à praia. Todavia, não era um ir à praia que compartilhava a alegria efusiva do excesso de melanina nos corpos bem torneados (ou não). Era um ir à praia medicinal. Queria tomar sol para curar-me do escorbuto interior. Sim, era doença. Pensando bem, não era falta de vitamina d, mas de serotonina. Infelizmente nós, seres humanos, inventamos a pós-modernidade (ou será que ela inventou-se?!) que a cada segundo ofegante que passa sofre uma mutação que chega a ser um insulto à nossa sempre tão ínfima sanidade. Esta pós-utopia, ou seja lá qual nome utópico, possível e passível de dar à esta era, (re)surge a cada aurora como uma gripe ou uma dessas –ites que todo mundo tem, cujas origens são desconhecidas, mas vivemos inventado pomadinhas, tratamentos à base de oxigênio e nos entupimos de pípulas milagrosamente messiânicas que não multiplicam nem pães, nem peixes e muito menos transformam água em vinho para nossa embriagues dormente ou em xaropes para uma futura crise.

É, observei e ainda queria ir à praia só para me sentir viva. Era como se aquele vento massageasse meu corpo que estava tão dolorido naquele dia. As cólicas pareciam-me retorcer cada fibra. Talvez isso fosse causado pelos burburinhos escandalosos causados pela proximidade do Dia dos Namorados. Mais uma vez é a luta pela sobrevivência. Esses dias comercialmente comemorativos parecem até fila de comida para famigerados; é uma correria cambiante onde os cartões de crédito, usados euforicamente, parecem poder comprar uma felicidade noturna do dia 12 de Junho. Ora vejam, sempre fui fã dos beijos roubados no elevador ou até mesmo daqueles puxados pela cintura ou das conversas mais despretensiosas que culminam em declarações e em olhares inesquecíveis. Partindo disso, ah, para quem ama, todo dia é dia 12. Respirei, contei de um até mil e voltei a ler. Em tal livro o narrador-personagem falava de um outro tal livro em francês (ah, definitivamente eu preciso aprender francês) que mencionou algo sobre o amor: na primeira juventude, o amor é como um rio imenso que arrasta tudo em seu curso, e ao qual sentimos ser impossível resistir. Era isso. Resistir pra quê? Que viva-se o dia 12, cada um ao seu modo. Contudo, eu ainda prefiro os 12 dos 365.

O dia passou assim: silencioso e visceral. Queria escrever, mas sempre achava tudo uma grande besteira mesclada com uma timidez latente que de tão bem escondida chegava ser desconcertante. Suspirei e contei até trezentos e pedi um suco de maracujá. Ao beber a iguaria, lembrei-me do nome de tal fruta em inglês: passionfruit. Definitivamente não precisava lembrar-me disso. Sabe quando você se auto-aconselha um “Pelo amor de Deus, né?! Hoje não!” para logo em seguida se auto-responder “Ta certo. Ok!”. Paguei a conta e fui embora com gosto de passionfruit na boca. As pessoas ao redor traçavam planos de bares e finais de semana e trabalhos finais e seminários e churrascos. Era tanta gente falando e todas aquelas vozes me incomodavam; queria silêncio.

Para mim o silêncio era tão importante quanto água e ar. Silenciar-me era alimentar-me, acalentar-me. Precisava disso porque era no silêncio que deixava minha bagunça interna gritar. E não adianta, o grito é direito adquirido desde o momento em que um médico qualquer nos dá um tapinha para que choremos, uma forma de dar-nos as boas-vindas. Bagunça. Será que um dia arrumo isso? Sinceramente acho que não. E aquele silêncio gritava paradoxalmente com aqueles barulhos pós-modernos onomatopeicamente indescritíveis. Até que resolvi acolher a ausência e me fartar dela. Isso mesmo, minha tarde de observações acabara. Foi então que percebi que observei muito pouco. Meu analista faz falta e ele também. Voltei para casa e sentei nua no chão do banheiro. As cólicas haviam passado quando duas longas e demoradas lágrimas escorreram do meu rosto. Contei até mil. Já estou pronta para um amanhã: cortada, mas inteira.

domingo, 25 de maio de 2008

Consumação

Havia tempo que ela não ia à praia. Até porque aquilo tudo lhe parecia uma perda de tempo. Ficar parada enquanto o sol a deixa tão vermelha quanto uma daquelas maçãs grandes? Não, não fazia sentido, definitivamente. De uma coisa ela tinha certeza: uma maçã bem vermelhinha era bem atrativa, mas ela não... Não mesmo. E à noite? Se durante o dia cogitar a idéia da ir à praia era praticamente impossível, ir durante noite então parecia um desparate ainda maior. Contudo, naquele dia tudo se tornara diferente. Não se sabe se os olhos estavam escandalosamente mais bonitos ou se era a flor que ela colocou entre os seios ou se o vento traiçoeiro denunciara a leve transparência de seu vestido longo. Ela sempre prendia o cabelo, mas naquele dia não... Naquele dia tudo se tornara diferente, por isso deixou-os livres. Livres como ela almejara tanto ser.

Não queria andar na areia. Não queria se sujar. Não queria que aqueles grãos irritantes grudassem em sua pele. Nunca vira tamanha teimosia como a de um grão de areia; eles não somem nunca. Portanto, decidiu caminhar pelo calçadão mesmo. Preto e branco, branco e preto. Preto e branco eram as cores das pastilhas do calçadão, da camisa do time preferido e da maioria das roupas que ela possuía. Preto e branco eram as cores mais honestas que ela conhecia. Seu vestido era alvo em contraponto ao seu coração, este as dores transformaram em uma cor que não se conhece. Os cabelos dela eram negros. A noite estava negra; tão negra como os cabelos dela e tão cristalinamente negra quanto os olhos dele.

Caminhava no calçadão e achava estranho a praia estar deserta. Achava estranho também a quantidade de postes que havia por lá. Na cabeça dela aquela imensidão toda só podia ter uma única fonte de luz: as estrelas. Mas naquela noite não havia nem luar, nem estrelas e os postes só serviam mesmo para tentar afugentar um pouco a violência; total fracasso social. Agora andava. Tinha medo. Medo da escuridão. Medo da chuva, pois esta molharia seu vestido branco e deixaria transparecer aquilo que há tanto escondia.

Andava, quase corria. A flor caira. Não mais exalava aquele doce perfume sob suas narinas. E neste alvoroço de êxtase e medo, uma voz a chamou. Não, não pararia mesmo, de forma alguma... Continuou correndo. Até que uma mão a tocou bem no ombro. Uma mão cuja suavidade e temperatura pareciam quebrar o gelo do vento e do medo. Olhou para trás com um receio só sentido antes por aquele amor platônico da adolescência. Olhou. E tamanha foi a surpresa que ficara sem fôlego. Eram os olhos negros. Aqueles mesmos, os únicos dos quais ela se lembrava. Havia muito tempo que aqueles olhos não se encontravam. Cumprimentaram-se. Falaram um pouco da atual situação moral-emocional de cada um, ou seja, aquele tão famoso “Vou bem, obrigada. E você?” . Tudo e todos estavam tão bem, todos e tudo estavam tão em ordem que chegava a ser frívolo. Coisas de uma moral cristã, porém fria, que já estavam cansados de apregoar. Contudo, continuavam naquela conversa que falava tanto, mas não dizia nada. Depois de um tempo, convenceram-se em retirar os calçados e caminhar na areia.

A distância entre a estrutura do calçadão e a areia era grande. E só ela sabe o quão feliz ficara ao encontrar as mãos dele oferecendo uma ajuda quase que medieval. Em uma mão, as mãos dela. Na outra mão aquela flor vermelha que há tempo caira de entre os seios dela. Foi mais que um encontro de mãos e perfumes, mas um encontro de olhares. Olharam-se. Enxergaram-se. A eventual transparência de vestido dela nem importava mais. Ela se sentira nua desde que os olhos negros dele encontraram os dela. Magia. Conteram-se. Continuaram a conversar sobre o supérfluo. Sentaram na areia fria e logo o supérfluo levou às lembranças. Estas não podiam ser frias; não eram frias, definitivamente.

Olharam-se com a sede daqueles que desejam saciar-se através da alma alheia. O cabelo dela ao vento. A flor ainda na mão dele. E ele em um ato que não se sabe se era desejo ou honestidade, na verdade era os dois, desejo dela sendo honesto com ele mesmo, devolveu a flor ao seu lugar de origem. E as mãos dele antes ocupadas, se ocupavam agora em tocar o colo e ajeitar os lindos, negros e bagunçados cabelos dela. Beijaram-se vagarosamente como se estivessem saboreando cada milímetro um dos lábios do outro. Abraçaram-se tão apertado que a respiração parecia cessar. Os corpos estavam cheios de areia. Mas aqueles grãos antes tão teimosos e irritantes nunca pareceram tão doces e suaves ao paladar como naquela noite. Estava frio. Contudo eles tinham o calor dos corpos um do outro e o céu como cobertor. Queriam-se, indubitavelmente. E era um querer incomensuravelmente teimoso, tanto quanto os grãos de areia, que não se render seria assassiná-lo com requintes de crueldade. Não matarás. Visivelmente aquilo tudo nada tinha a ver com a Bíblia ou qualquer outro sacramento. Não, naquele momento eles se alimentavam da mistura das carnes um do outro; um sacramento totalmente mundano, mas tão delicioso quanto o néctar mais sagrado do deserto e não saboreá-lo constituiria em pecado de morte para ambos. Sim, areia, corpos, céu, desejo... Essas eram as únicas regras, a única oração. E todos aqueles postes de luz no calçadão nunca lhes pareceu tão inconvenientes.

domingo, 11 de maio de 2008

Ambigüidade Estrutural

Te amo.

Tua ausência me esvazia.
Tua presença me sufoca.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

A Simple Wish

May you always find the heavenly light in your way.
May your eyes always be opened and clear.
May you always be able to open up your heart.
May you always surrender yourself to the beauty of a full moon.
And when you had to face up the dark corners,
May you be guided by the awesome starry sky.
May you always find a warm island when you get tired of swimming.
May your feet always move on the right and safe way.
And when you had made a mistake,
Just look behind, there are going to be flowers in your garden.
May the cool breeze dry the fallen tears on your face.
May you always have somebody to love, care and share.
May the rainbow always appear after your rainstorms.
May life embrace you and caress you just like a mother does.
And when everything seems dull and cold,
May you remember that you are the key... just trust yourself.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Sessão Nostalgia

Jukebox:

Encontros e Desencontros (Maria Rita)

Photograph (Jamie Cullum)

Prefácio:

Dedico à todos aqueles que estão ou passaram pela minha vida. Todos vocês fazem parte dela. Todos vocês são as saudades, presentes ou ausentes, que gosto de ter.

Saudades. Chorei. Não um choro triste, angustiante, daqueles que vai trespassando a alma. Mas chorei. Era um choro saudável. Choro de quem não tinha sono às quatro horas da manhã. Choro cinematográfico. Partes de uma minissérie eram as lágrimas. Flashes de luz que faziam cada momento unicamente doce, eufórico, íntimo.

Trios, filmes, dúvidas, telefones, lágrimas, risadas. Risadas... Ah, como são boas as risadas! Gosto daquelas mais escandalosas. Contudo elas sempre me levam às lágrimas. Estas eu prefiro as silenciosas. Aquelas que se deixam escorrer em uma dessas madrugadas que o vento leva. Conquistas, essas são as melhores partes. Se bem que eu ainda olho para trás e me acho muito velha para tão poucas conquistas. Mas isso se torna uma outra história. Acho que preciso traçar melhor essa minha linha do tempo.

Saber como as pessoas te vêem... Nossa isso dá medo! E é nessas horas que aquela velha teoria de ser um mal necessário cai por terra. Mas é, indubitavelmente, um mal necessário. Apelidos. Existe forma melhor de saber o que uma pessoa acha de você do que os apelidos que a mesma te atribui? Nem sei. Não sei se sim ou se não. Acho que na verdade nunca se sabe. Mas é inegável a participação deles na nossa vida.

Fotografias. Gostaria de ter mais delas. Agora nem adianta mais contá-las. Os momentos passaram e mesmo assim elas não captariam o essencial, não captariam nossa juventude e eminentes desejos de liberdade. “Liberté, Égalité et Fraternité”. Só que eram ideais bem menos filosóficos e coletivos. Bem, continuo ainda sem saber até que ponto cada um de nós pode ser socialista; se é que se pode ser ainda.

Cheiros... Daquela comida gostosa na casa de um ou daquele restaurante aos sábados ou daquela bagunça gastro-caótica na casa de outro. Perfumes. Presentes. Flores. Doces. Amores. Depois da aula de Educação Física o que não faltava eram cheiros e desespero, obviamente. Mas também tinha torcida e muita alegria a cada gol. Cantarolávamos músicas que exalavam nossa euforia, essência e alegria.

Senti saudades.

Saudades das PowerPuff Girls, Capitão América, Batman, dos clipes da MTV, das pesquisas na biblioteca municipal, Betty Boop, de fazer prova oral, da Torloni, das músicas dançadas em cima da mesa, dos cinemas e praias aos sábados, de não ter feito pré-vestibular, daquele amor platônico. Saudades das aulas de História, de Geografia, de Espanhol, de Fonética. Saudades dos biscoitos amanteigados, dos amores, dos amigos, dos amores que viraram amigos e dos amigos que viraram amores. Saudades daqueles primeiros dias, do primeiro sutiã, do primeiro emprego, do primeiro olhar.

O tempo para mim nunca foi retalhado, mas uníssono. Bem, pelo menos aqui no coração. O que me faz muito feliz é saber que há muitos personagens de desenho, praias, livros, salas de aulas, primeiros, filmes, músicas, cheiros, flores e amores ainda à espera para serem coloridos pelos pincéis mágicos da vida.

Sinto saudades sim. Não aquela dolorida, mas uma outra: aquela que eu gosto de ter. Os momentos só são especiais porque não podem ser apagados, não há repetição e muito menos retorno... Amo todos, todos eles. Contudo este presente não me permite querer uma volta porque amanhã ele também será passado e a vida grita meu nome incessantemente.

Nocaute


ANTES

Amo você.
Amo tudo que você
construiu aqui dentro
de mim.

DEPOIS
Amo você.
Odeio todos os escombros
que restaram de você
aqui dentro
de mim.

domingo, 27 de abril de 2008

(Des)Continuidade

Ah se soubesses...
Que o teu cheiro jaz ainda sob minha pele
E que continuo a contemplar as estrelas
Que, naquela noite, nos iluminavam.
Teus lábios continuam por beijar os meus,
Meu corpo ainda se arrepia por tuas carícias.
Já diria o poeta:
"Falais baixo se falais de amor."
E é entre meus sussuros noturnos
Que declaro-te todo meu amor.
Não há por quê gritar à gente os versos,
Escritos com gotas de lágrimas e sangue,
Que te fiz e dedico-te secretamente.
Amo-te todas as noites à distância
E continuo a esperar a luz dos olhos teus.

Inspiração

E é por isso que te escrevo.
Porque te quero aqui neste folha tão impessoal,
Escrevo incansavelmente nesta luta já perdida
De tentar lapidar tuas formas nas palavras,
Sentir teu cheiro através das minhas rimas,
Ver nos adjetivos teus olhos,
Sentir na textura fria do papel a tua pele.
Tento amar-te até mesmo no improvável
E transcender o impossível em tua presença deveras ausente.

sábado, 26 de abril de 2008

Poliana

Poliana era uma menina polida.
Todos gostavam de Poliana.
Ela tinha o perfume das flores
E o olhar doce como de um pássaro.
Poliana era um sonho.
Todos queriam uma filha como ela.
Poliana era flor, um passarinho
E uma liberdade que todos invejavam.
Uma dia Poliana alçoou vôo.
Bateu asas, só a alma vôou.
Uma rosa no asfalto.
E todos acordaram do sonho.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Carta à um amor bandido.

E pensar que tinha tanta coisa para te dizer e não falei quase nada. Espero que meus olhos tenham suprido este papel repentino e quase obrigatório de lábios. Sabe quando tudo é tão intenso que acaba suprimindo as palavras? Então, é por isso. Pela rapidez, pela intensidade, pelo susto, pela reciprocidade, pelo seu olhar.
Me peguei pensando várias vezes nas palavras que poderia pronunciar, mas o êxtase e o medo que ele proporciona sempre acabam por calar-me. Te quis em tantos momentos e queria que ficasse tantas vezes. Contudo, nunca o pedi explicitamente. A magia sempre me impedia de raciocinar direito. Não que seja menos encantador agora, mas o relógio desta metrópole nos apressa, lembrando que mundo existe e nos cobra tanta coisa. Somos cobrados por coisas que até mesmo estão fora de nossos reais interesses; o que dizer então dessa vontade de ficarmos juntos?
Parece que nem eu, nem terceiros respeitamos isso. Fico dividida entre aquilo que quero e aquilo que devo. Te quero, mas não devo. Ou será que nos queremos, mas os senhores do universo parecem não nos escolherem? Enfim, só sei que te quero. Te quero pela minha ansiedade, pela magia, pelo tempo ingrato, pelos silêncios, pelos olhares e abraços, pelos cafés, pelos beijos que não foram permitidos beijar, pelas palavras, pelas entrelinhas. Queria muito que você ouvisse tudo isso de mim, mas, seja por problemas de fala, liberdade ou horário, seus olhos não me vêem neste momento. Entretanto eu precisava, de alguma forma, te "dizer" que eu te amo.
Eu te amo e tantas vezes flagrei seu olhar e segurei o meu com medo que eles nos delatassem. Não tivemos um momento nosso como queria, desejava e esperava. Mas agora não há mais espaços e nem convêm fazer análises de porquês... O tempo não pára. E é por isso que decidi não adiar estas palavras para um amanhã que não me pertence. Só tenho o agora e sua não-presença. Não digo ausência, visto que ela é oca, vazia, e eu te tenho aqui dentro... Então não pode ser ausência.
Isso tudo me faz sentir com quinze anos novamente. Sim, quinze anos. Época de sentimentos coloridos das mais variadas matizes e quer saber? Não vai desbotar nunca. Não faço a mínima ideia do que vai acontecer conosco, mas tenho certeza que está valendo a pena e muito. Escutar tudo que você me disse, ver seu sorriso, sentir teu cheiro... É, valeu totalmente a pena! E as cores que isso tem, meu amor, são eternas. O momento é passageiro, mas as lembranças não. Elas são traiçoeiras, sempre voltam.
Tomara que o amanhã te traga para mim. Contudo, isso já é uma outra situação. A única coisa que sei é que hoje, até o momento em que eu deixar esta carta em um lugar onde você possa encontrar e ficar com uma raiva danada de não ter te dito isso pessoalmente, eu estarei te amando.

"Come away with me in the night.
Come away with me and I'll write you a song.
Come away with me on the bus.
Come away where they can't tempt us with their lies.
And I wanna walk with you on a cloudy day in fields where the yellow grass grows knee-high.
So won't you try to come?"

quinta-feira, 24 de abril de 2008

First Session.

Após tantas lutas de esgrima comigo mesma. Após tantos sentimentos dúbios sobre um eminente começo... Aqui estou eu rendida aos encantos e exposta à todos vocês. Não sabia o que fazer. Não queria, mas queria. Dúvida. Vontade ou não-preparação? A quais tentações devo ceder? Se o faço, não sei. Se não o faço também não sei. O que fazer então? Ceder às tentações, à todas elas, foi a melhor alternativa. E aqui estou eu.
Obrigada àqueles que me incentivaram e acreditam em mim. Isso é por vocês e para vocês.