Sentada ali, magrinha como uma menina, passava dias inteiros. Ninguém entendia. Aliás, ninguém nunca entendeu. Encontrou naquilo sua fuga: na neutralidade. Escrever era seu purgatório uma vez que o céu nunca conhecera e não queria voltar ao inferno.
Escrevia.
As grandes janelas sempre ficavam abertas, pois assim podia assistir o mundo. Aquele mundo todo de gente apressada pra lá e pra cá. Observava uma obra de arte e seus autores
Ofegava, escrevia e com os olhos encharcados observava a moldura viva bem
A estação com raios de ouro ultrajantes chegava para depois as grandes folhas espalharem-se nas ruas deixando os frutos à mostra. Os ventos cortantes cediam lugar à sedução dos perfumes florais com seus coloridos. Ela observava, chorava. Nenhum daqueles barulhos era o dele.
Silêncio.
Observava. Dispersa a vida passava como aquelas pessoas na rua, contrapondo-se ao ideal, ao real, ao visceral e ela, sentada, observava e escrevia. Contudo, com o passar das horas e dos passos, cada palavra naquele caderno tornara-se mais e mais incoerente. Mal sabia que a vida é feita de passos construídos pelos segundos e não andar era suicídio.
Observava e escrevia e nada mudava e o amor não voltava. Assim, cada dia era uma pequena morte e ficava cada minuto mais longe de si mesma e daqueles barulhos que nunca eram os dele.
Um comentário:
Ter Clarice como epígrafe é uma grande responsabilidade que vc cumpre com muita propriedade.
Queria escrever prosa assim!
parabéns!
beijos!
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