domingo, 15 de junho de 2008

Passionfruit

Hoje resolvi tirar o dia para observar. Talvez tenha feito isso porque tudo que desejei hoje era ir para casa, tomar um longo banho frio sentada no chão do box, vestir uma roupa leve e sair. Sair, mais precisamente ir à praia. Todavia, não era um ir à praia que compartilhava a alegria efusiva do excesso de melanina nos corpos bem torneados (ou não). Era um ir à praia medicinal. Queria tomar sol para curar-me do escorbuto interior. Sim, era doença. Pensando bem, não era falta de vitamina d, mas de serotonina. Infelizmente nós, seres humanos, inventamos a pós-modernidade (ou será que ela inventou-se?!) que a cada segundo ofegante que passa sofre uma mutação que chega a ser um insulto à nossa sempre tão ínfima sanidade. Esta pós-utopia, ou seja lá qual nome utópico, possível e passível de dar à esta era, (re)surge a cada aurora como uma gripe ou uma dessas –ites que todo mundo tem, cujas origens são desconhecidas, mas vivemos inventado pomadinhas, tratamentos à base de oxigênio e nos entupimos de pípulas milagrosamente messiânicas que não multiplicam nem pães, nem peixes e muito menos transformam água em vinho para nossa embriagues dormente ou em xaropes para uma futura crise.

É, observei e ainda queria ir à praia só para me sentir viva. Era como se aquele vento massageasse meu corpo que estava tão dolorido naquele dia. As cólicas pareciam-me retorcer cada fibra. Talvez isso fosse causado pelos burburinhos escandalosos causados pela proximidade do Dia dos Namorados. Mais uma vez é a luta pela sobrevivência. Esses dias comercialmente comemorativos parecem até fila de comida para famigerados; é uma correria cambiante onde os cartões de crédito, usados euforicamente, parecem poder comprar uma felicidade noturna do dia 12 de Junho. Ora vejam, sempre fui fã dos beijos roubados no elevador ou até mesmo daqueles puxados pela cintura ou das conversas mais despretensiosas que culminam em declarações e em olhares inesquecíveis. Partindo disso, ah, para quem ama, todo dia é dia 12. Respirei, contei de um até mil e voltei a ler. Em tal livro o narrador-personagem falava de um outro tal livro em francês (ah, definitivamente eu preciso aprender francês) que mencionou algo sobre o amor: na primeira juventude, o amor é como um rio imenso que arrasta tudo em seu curso, e ao qual sentimos ser impossível resistir. Era isso. Resistir pra quê? Que viva-se o dia 12, cada um ao seu modo. Contudo, eu ainda prefiro os 12 dos 365.

O dia passou assim: silencioso e visceral. Queria escrever, mas sempre achava tudo uma grande besteira mesclada com uma timidez latente que de tão bem escondida chegava ser desconcertante. Suspirei e contei até trezentos e pedi um suco de maracujá. Ao beber a iguaria, lembrei-me do nome de tal fruta em inglês: passionfruit. Definitivamente não precisava lembrar-me disso. Sabe quando você se auto-aconselha um “Pelo amor de Deus, né?! Hoje não!” para logo em seguida se auto-responder “Ta certo. Ok!”. Paguei a conta e fui embora com gosto de passionfruit na boca. As pessoas ao redor traçavam planos de bares e finais de semana e trabalhos finais e seminários e churrascos. Era tanta gente falando e todas aquelas vozes me incomodavam; queria silêncio.

Para mim o silêncio era tão importante quanto água e ar. Silenciar-me era alimentar-me, acalentar-me. Precisava disso porque era no silêncio que deixava minha bagunça interna gritar. E não adianta, o grito é direito adquirido desde o momento em que um médico qualquer nos dá um tapinha para que choremos, uma forma de dar-nos as boas-vindas. Bagunça. Será que um dia arrumo isso? Sinceramente acho que não. E aquele silêncio gritava paradoxalmente com aqueles barulhos pós-modernos onomatopeicamente indescritíveis. Até que resolvi acolher a ausência e me fartar dela. Isso mesmo, minha tarde de observações acabara. Foi então que percebi que observei muito pouco. Meu analista faz falta e ele também. Voltei para casa e sentei nua no chão do banheiro. As cólicas haviam passado quando duas longas e demoradas lágrimas escorreram do meu rosto. Contei até mil. Já estou pronta para um amanhã: cortada, mas inteira.

Um comentário:

Maykon disse...

Olhaaa só que legaall

Conheci o lado sécsy da minha prof =O

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Tah mtoo massa o blog,continua assim q vc vai longee moça (y)

=D

Bjo do chatinho do ingles akee *-*