domingo, 2 de novembro de 2008

Ao amor de uma noite qualquer...



Do amoroso esquecimento

Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?¹



Haveria tanta coisa que eu queria te dizer: tantas declarações idealizadas por este meu amor sem nexo, sem sexo; tantas carícias de um amor renascido no tempo me fogem às mãos em total desordem cronológica. Esta não-lógica do que você é desafia o meu antes íntegro, inteiro intelecto. Esta não-ordem que me causa tua lembrança me faz feliz em meio ao caos de tua ausência. Remoer passados parece fazer parte de mim. Não consegui preparar teu velório, nem divulgá-lo. Então, mais uma vez, a certidão de nascimento desta loucura torna-se válida sem prazo de término.

Tal qual sommelier, bebo-te em goles lentos e degusto teus sabores em cada líquido que venha saciar minha sede. Busco-te em minhas letras tortas e em meus livros suicidas como remédio incontestável, infindável, atemporal. Acho que você tornou-se minha esperança. Agora eu sinto, pois, outrora, eu era dormente. Você é quem me invade as entranhas e me preenche, me seduz sem nem ao menos estar por perto. Daí eu te procuro, te escavo e te encontro aqui dentro, te ressuscito. Como uma relíquia, acalento este amor cuidadosamente em meus braços e rapidamente nos tornamos um.

Não sei mais quem sou; não sei mais quem sou se não me arrepiar, se não mais te encontrar. Necessito do nosso encontro, pois, assim como a lua parece descer e transbordar-se pelo mar, quero me afogar docemente em você. E se eu te dissesse neste momento que eu te amo, o que colheria de seus olhos? Brilho? Desesperança? Não sei. Não sei. O não saber dói. O não saber escraviza. O não saber mata a alma.

Releio-te em meus cadernos e passo a ter certeza que tenho te amado desde aquela data que nem sequer me recordo mais. Um dia que fugiu ao tempo não por não ser pouco importante, mas por ser tão especial e lindo que os calendários tornaram-se insuficientes para marcá-lo. O amor não é um trem que possui hora e local exatos para chegar e partir. O amor é um trem arrebatador que nos puxa para o seu interior e não nos deixa saber quando e onde parar. Agora sou passageira de um trem batizado com seu nome e sobrenomes. Acolhe-me; não me deixe mais sair. Peço-te: dá-me tua passagem só de ida ou, se preferir, volta comigo.

¹Mário Quintana In "Espelho Mágico"


Um comentário:

Hudson Pereira disse...

Sei bem como é isso, tocendo pra que no fim, tudo mude e fique bem.
É dificil não se arrepiar ao ler as coisas que vc escreve. Parabéns e um beijo!