
Sorriamos, gargalhávamos e trazíamos a vida para cada vez mais próxima de nós. Dois seres intensos não poderiam ter tanta paz, mas cada vez que discutíamos você me puxava pelo braço, cabisbaixa, e me beijava. Nós construíamos nossa paz mesmo através de todas as nossas guerras. Isso não significava que era fácil; não era tão difícil, mas era tão belo ver teus olhos pequenos e amendoados me olhando chorosos, então eu te abraçava. Tais abraços tornavam-se cada vez mais intensos e longos como se quisessem carimbar cada parte do meu corpo no teu. Daí chegava o vento que, por vontade própria, encarregou-se de secar nosso suor para que pudéssemos permanecer naquela inércia amorosa e braçal. Não há maneira de esquecer nossos segundos mesmo que eles, algum dia, permaneçam em algum lugar do passado: é pelo passado que somos quem somos, que estamos onde estamos e que nos amamos como nos amamos.
Houve dias que tive vontade de ser livre novamente, de ir e vir novamente. Estive enganada este tempo, pois você era minha liberdade. Não te ter à noite é que era minha prisão. Eu era um Ícaro muito diferente porque minhas asas eram reais, porque era você quem me fazia voar. E não importa se três, quatro meses ou quarenta anos, o que importa era poder te ver abrir os olhos todos os dias e estar certa de que todas as lágrimas que chorei algum dia se transformaram em um rio cujas águas me levaram até você. Chorava de emoção pelo tempo passar e nos mantermos juntos; chorava como quem joga a oferenda ao mar em agradecimento pela benção.
Amar-te desta forma foi a maior surpresa da minha vida e não era surpresa nenhuma que meus sonhos e minha realidade eram teus. Portanto os passos eram dados e então a vida coloria-se...