Eu que não amo mais você, me peguei perdida entre as desculpas do ser e não ser.
Estou todo o dia inventado irrelevâncias que produzam qualquer motivo bobo para te ligar. Tiro e retiro telefones, ligo e desligo fatos, confusões, conclusões.
Eu que não amo mais você, resolvi, sem porquê, dar faxina no quarto.
Estou horas a fio olhando essas paredes e porta-retratos, minha cama e seus sapatos. Espero, reespero, desespero por minhas mãos não mais conseguirem te tocar.
Eu que não amo mais você, fiz um pacto de força e sangue comigo mesma.
Estou, contudo, remoendo as lágrimas como alguém que recicla a própria sobrevivência. Percebi que meu equilíbrio freudiano ocupa somente minhas teses e não mais meu corpo já falido.
Eu que não amo mais você, escrevo cartas e poemas sem métrica.
Estou a recitar-te como alguém que lê um livro sagrado em busca de salvação. Escrevo, escrevo-te e entendo que todas essas linhas deixaram de ser minhas a algum tempo.
Eu que não amo mais você, sinto teu cheiro no travesseiro e bebo a água que deixou no copo.
Estou arrancando as cascas em cima das feridas para, assim, encontrar meu erro. Os arranhões desta queda significam também a doce leveza perdida de outrora.
Eu que não amo mais você, titubeio em não mais te mirar, em ser forte, em andar sem par.
Eu que não amo mais você, decidi te libertar e me banhar na água do mar.
Um comentário:
Bem legal... pesado mas legal
;*****
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