Para Zeca, meu titio carequinha.
Estou na última página de mais um romance que chega a seu fim. Parece estranho que esta vida tenha que terminar após tantos anos de trabalho árduo para construí-la. E o mais estranho ainda é continuar lutando por ela, tal qual gladiador que enfrenta a fera muito mais forte que ele. Acabou. E o que fica para quem ficou? Talvez a certeza de um pacto de carinho feito outrora. Talvez o entardecer de vários domingos. Talvez o cheiro do cabelo. Talvez o tom de uma voz grave. Talvez uma parte da vida.
O último a me chamar de menina calou-se eternamente. Junto com ele, a menina também emudeceu. Agora a mulher guarda as lembranças de seu andar prejudicado por um desses acidentes que acontecem ao caminharmos em alguma estrada desta vida. Suas mãos não tinham muita força para segurar as minhas, mas eram suficientemente calorosas para me abraçar. A mulher continua a procurar-se por tais estradas que deixastes para trás e guarda todos aqueles abraços que foram reservados a ti.
Deixastes muitos órfãos; irmão, principalmente. Contudo, há certas alegrias que não morrem jamais. E é na perda que até os xingamentos são esquecidos. Se o tempo é ou não justo conosco, eu não sei. Acho que nós mesmos comentemos as maiores injustiças contra nós e contra o tempo. Não importa, Julho ainda é teu. Desejar-te-ei felicidades todos os anos, não em aniversários, sempre soube que não era uma aficionada por calendários, mas felicitações por tudo que construístes. Caso contrário não haveria lágrimas neste dia; tanto que hoje o sol nem nos sorriu.
¹Clarice Lispector in “Tempestade de almas”