domingo, 26 de dezembro de 2010

(Des)Equilibrar

Encerrei meus sonhos pueris para viver tudo que estou vivendo agora. Acertei alguns erros e me preparei para errar muito mais e deliciosamente. Nessa loucura de viver aquilo que conjecturei nunca me permitir viver, reencontrei minhas músicas e letras e redesenhei novas linhas de um sorriso já conhecido. Apaguei palavras eternas em meus dicionários, me deixei ser um filme sem final feliz e com afável desenvolvimento. Não corte a linha que me liga à tua alma, estava dito em um filme do Coppola. Mas eu digo: se a linha tiver que ser cortada, que eu tenha, ao menos por uma noite, minhas costas inteiramente acariciadas por teus beijos. Quero ainda me felicitar pelas palavras esquecidas de outrora. Quero ainda arrumar os armários e ter coragem de jogar muita coisa fora. No mapa perdido dos meus tesouros, me encontrei ávida, lúcida e desistente de minha sede pelo equilíbrio – quero bambear nas certezas ou por algumas doses de vinho. Continuo detestando meu corpo e minha alma infiel. Contudo, se após milhões de anos de evolução, me foi dado esta pele, quero aprender a usar armas brancas e me ferir menos. Percebi que me feria letalmente enquanto julgava estar com a vida sob controle. Não encerrarei a carreira e a fé, se ela existe, aparecerá em algum dos momentos torpes que viverei.

domingo, 24 de outubro de 2010

Seguir

Se dissesse adeus e saísse correndo pela porta, o que faria? Certamente nada. E você, de fato, nada fez. Você me dizia que sempre me emprestava algo porque, caso nos desentendêssemos, eu teria que voltar pra devolver a tal coisa, assim teríamos uma segunda chance. Não havia nada mais de bom, dado, emprestado ou compartilhado, entre nós. Lembrei-me disso logo que fechei a porta do elevador na portaria. O que foi isso? O que fomos nós? Deve ter existido algo, senão meus olhos estariam secos naquele momento. Pessoas fortes como eu não choram, por isso existem os óculos escuros.

As calçadas preto e brancas lembravam-me aquilo que tivemos juntos. À esquerda estava o Café, do outro lado da rua estavam a banca de jornal e a loja de doces, à direita estava a livraria. O tempo congelou e te vi ali tantas vezes e eu contigo comprando doces diferentes, bebendo café gelado e comprando livros de prateleiras diferentes. Eu te vi ali tantas vezes – o homem que admirava, que me fazia rir. Por um instante achei que te re-encontraria. O relógio voltou com seus tic tacs. Vida que segue e você que não me seguia. Eu já esperava por isso e esperava que você me esperasse, mas você não é homem de esperas. Esperar é ideal romântico feminino. Você é o mais normal dos homens e isso me fazia a mais infeliz das mulheres.

Dizem que a energia vital é cíclica. O que não compreendo é como isso poderia ser benéfico – voltar ao começo, voltar aos erros, voltar a você. Fechei a porta de casa e num esforço sobre-humano, joguei as chaves na mesa de centro e me joguei no sofá. Poderia ficar de pé, inerte até minhas pernas ficarem dormentes ou com câimbras tamanho cansaço que sentia; deitar era, na verdade, um gesto de piedade. Havia passado dois anos por nós. Fitei aquele molho de chaves largado na mesa. Gostaria de ter sabido como é morar com você, como é amar e ser amada por você, como é dividir com você. A culpa também é minha, pois fiquei esse tempo todo mostrando, em todo e qualquer gesto, o seguinte: olha como eu sou forte, olha como você não me faz falta, olha como minha vida continuará perfeita sem você. O que você não sabe e o que eu não entendo o porquê de eu ser assim, é que essa é minha forma mais doce, mais delicada de dizer eu te amo.

Tic tac, o tempo acabou e ele foi generoso, nós que não fomos generosos com o que tivemos. Você não verá fotos minhas em festas e sorrindo. Não me maquiarei mais nem colocarei roupas chamativas para ir ao trabalho semana que vem. Estarei com meus brancos, cinzas, azuis e pretos de sempre, darei bom dia, sorrirei e direi todas as frases que o trabalho demanda. No computador, uma foto nossa minimizada enquanto estou no banheiro tentando respirar. Mas eu consigo, eu sempre consegui sorrir e seguir. A única coisa que nunca consegui foi deixar você me amar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Amar é transgredir.

Eram exatamente naquelas tardes cinzentas em que ela o via. Ele era meio desengonçado e além dela, não se sabe quem mais atentava as pupilas para o caminhar dele. O nome dele era Roam. Roam, nunca ouvira um nome tal qual, mas combinava com aquele sorriso sempre desconfiado e um olhar que parecia fugir do olhar. Ela o via às quintas-feiras e não importava o que estivesse fazendo, ela iria sentar naquele banco, no final da tarde, e esperá-lo passar. Por vezes, existia a sensação de reciprocidade de olhares e talvez fosse realmente tamanha que desviavam-se concomitantemente. Em uma dessas quintas, os dois dividiram o banco.


Tantos anos depois e eu só penso em você. Lembra daquela vez em que você pediu que eu te ensinasse a me beijar? Lembra o que eu disse? “Os lábios devem ser beijados devagar, que são como o inicio de uma jornada. Jornadas precisam ser sonhadas e, quando iniciadas, precisam ser tateadas por dedos ávidos e carinhosos, como quem desenha uma rota de fuga. Posteriormente, a entrada em outro território permite uma troca quente e saborosa.” Você me disse, sorrindo matreiro, que não havia entendido absolutamente nada, me agarrou pela cintura, ajeitou meu cabelo e me beijou longamente. Lembra? Eu nunca esqueci.


Hélio caiu na sarjeta depois que Bela foi embora. Eram tantas mentiras que passaram a viver delas – metiam que se amavam, que se desejavam, que eram felizes. Mentiam todo o tempo. Bela mentia ao dizer que tinha tirado de alguma planta a flor que trouxera no cabelo. Hélio mentia sobre um problema de ereção. Um ria das piadas incompreensíveis do outro e tinham longas oito horas de sono diárias. Hélio casara-se com Bela porque era, de fato, bela. Bela casou-se com Hélio por qualquer motivo que não resiste ao mal hálito matinal. Traíam-se para suportarem-se. C'est la vie. Mas sempre haverá alguém pra desistir ou compreender primeiro.


Dançavam exibindo corpos torneados e suados. No dia seguinte, um sábado, acordaram num motel barato, nus e ainda com a sensação de cansaço e falta de ar. Nenhum dos dois lembrava-se o que havia acontecido, mas sabiam que havia sido bom. Mentiram seus nomes e enquanto ela tomava banho, ele pegou o celular dela para gravar o número. Domingo, 10:00, ligação: Oi, sou eu, de ontem. Quero te ver. Me diz seu nome de verdade? Meu nome é Júlia. Também quero te ver de novo. Domingo, 15:00, reunião de família: Este é meu filho que não conhecia. Estou muito feliz de, finalmente, tê-lo aqui. Domingo, 15:02, terror.


Eu te amei até com meu medo. Mentiria se dissesse que não gostaria de mergulhar em você. Não posso. Tenho medo dos teus segredos, de você ir embora, tenho medo de me ferir, de me afogar e não há morte pior que a concebida na praia. Preciso que você me ame, que me grite. A fria aqui sou eu e você não tem o direito de me imitar. Hoje quando suas mãos deslizavam deliberadamente nas curvas do meu corpo voluptuoso, só consegui pensar: uma pena amanhã ter que chegar. Ter que mapear um novo comportamento com o meu tão típico blasé, passar uma maquiagem escura nos olhos e me repetir. Não preciso que haja um amanhã, só quero que o hoje dure eternamente.

domingo, 3 de outubro de 2010

oh, yes

there are worse things than
being alone
but it often takes decades
to realize this
and most often
when you do
it's too late and
there's nothing worse
than
too late.

Charles Bukowski

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ires e vires

Pisar nesses azulejos caramelos como quem descobre rotas secretas, tem sido intrigante. Andar pelos cômodos, medir a altura da cama, varrer os tapetes, escrever à faca na mesa do escritório é como desvendar mistérios em vão. Por mais que abra as persianas, escute os sons estrondosos e me acomode no sofá de pelica sinto-me pequena. Nunca conseguirei adentrar esse lugar e deixar o rastro do meu cheiro nos lençóis – terei sempre que me anunciar e morrer de medo com o barulho da porta abrindo e que tipo de olhar você lançará sobre mim. Aliás, percebi que eu não sei de qual cor são seus olhos, já os vi de tantas cores, mas acho que acredito mais neles quando estamos no escuro.


Sr. Estranho, Mentiroso, Misterioso... Poderia dar-te tantos outros nomes em francês... A gente sempre se ilude de que é mais bonito sofrer em outro idioma, talvez seja porque esquecemos as palavras que transcendem a língua materna. Eu nunca te esqueci mesmo você discursando em outro idioma na nossa própria língua. Perguntei-me tantas vezes em que nossas mãos encontravam-se, se deveria estar ali tentando uma sincronização que me parecia, por vezes, tão desencontrada. Eu gosto de sonhar e quando você me abraça nas nossas caminhadas efêmeras, sinto ganas de fugir – fugir do meu corpo, esse mesmo corpo que clama por você.

Queria saber como pude fazer isso comigo mesma, como pude não deixar o tempo passar e guardar um baú de lembranças jamais vividas. Quando alguém que amamos morre e decidimos cremar seu corpo, o ritual de desfazer-se das cinzas mais parece, ilusoriamente, o desejo do renascer da Fênix. Queimei cada papel, cada domingo, cada música enviada e quando resolvi desafazer-me do baú, como num passe de mágica, como se eu fosse um deus, lá estava você intacto, sorrindo e conhecendo minhas fraquezas. Você sabe muito bem que não gosto de explicar as coisas nos mínimos detalhes, que não falo do meu corpo porque tenho vergonha daquilo que não aprendi a amar e que sou uma menina, uma menina medrosa.

As páginas amareladas do livro denotam que o tempo, de algum modo, passou. Se rápido ou devagar não interfere no que sinto hoje. Todavia, eu sempre soube que nunca poderia, por mais que o tempo passasse, passar ilesa por você, de você. A única atitude que tive foi podar meus desejos, deixar secar ao sol tuas promessas falsas que aprendi a amar. É, sou masoquista a ponto de assistir tuas ilusões sonoras como uma simples espectadora da minha própria vida e, por alguns segundos, sentir-me feliz em submergir no licor viscoso delas. Estou certa. Estou errada. Estou. Estamos. Essa sou eu. Eu sou. Tu és. Não seremos.

Não seremos in loco. A solidão é o remédio, a salvação. Não aprendemos a dividir, não aprendemos a nos dividir. Mas também é a pura verdade que sinto uma enorme vontade de conhecer por inteiro o menu dos teus sabores. Eu amo tanto te ouvir que o silêncio, meu abrigo, expande-se. Te escuto e não sei me organizar sintaticamente, os significantes e os significados formam signos errados e minha zona de conforto não variável é calar-me. Essa sociedade amorosa é mesmo um fiasco e eu nunca quis tomar seu tempo com besteiras. Belos rostos são encontrados todos os dias e eu, novamente, nunca quis tomar seu tempo com besteiras. I wanna a perfect body. I wanna a perfect soul. A verdade é que eu nunca quis tomar seu tempo com besteiras.

O aroma do café permeia nossos olhares desconfiados. Criamos um universo rarefeito que sequer nós conseguimos colonizar. Poderíamos ser tantas coisas – separados. Eu não seria tão fria e você não soaria tão falso. Abre essas janelas, deixa o barulho da rua entrar. Deixa eu esquecer a textura do lençol, os nomes nos copos de café e a saída pela porta de trás. Eu não quero mais te encontrar nas saídas dos labirintos. Eu não quero mais ler e não crer. Eu e você não poderíamos ser nós, apesar das minhas contradições. Não me leve à sério, me leve por aí. Me ame. Mande-me embora, mostre-me o caminho da porta pra fora, pois esse eu não consigo aprender sozinha.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tautologia

Casa comigo que eu sou capaz de te fazer ver tudo que está bem na ponta do teu nariz. Eu pinto tudo de azul e te deixo a vontade para correr nua pela casa. Casamento é substantivo capcioso, é o contrário do que parece ser, mas casa comigo que eu viro teu sapo quantas vezes quiser.

Casa comigo que eu te deixo dormente e transformo todo o teu chão em cama macia. Se quiser, eu não peço pra você gritar, mas encosta teu corpo bem perto do meu e respire profundamente, sempre.

Se você decidir casar comigo, farei de você a mulher menos mãe do mundo. Contudo, sei que você não se importa em não ter filhos. Mas casa comigo que te semearei herdeiros todas as noites só pela profundidade do teu fitar.

Casa comigo que eu troco as amantes de endereço e peço que todas as minhas contas sejam entregues na nossa casa. Minha cor favorita é o vermelho, mas gosto quando você se veste de branco, é como se fizesse parte da sua pele. Então casa comigo porque eu também quero ser parte das tuas negras noites.

Casa comigo porque estou cansado de procurar presentes diferentes sem saber do quê você gosta. Portanto, se você casar comigo, pode falar dos comerciais e das revistas de moda e livros com finais infelizes que eu dou que eu gasto e me desgasto só para me poupar das tuas reprovações.

Que a decisão de se casar comigo não seja baseada na angústia que posso te causar em nossos dias. Só se case comigo para que possa te trazer estrogênio, chocolates, endorfina, músicas, feromônios e flores.

Casa comigo para eu arrancar tudo isso de bom que há dentro de você e me apossar da tua alma, pois quem sempre perambula de madrugada sou eu. Se você aceitar tudo isso, verá a quantidade de frieza que existe aqui dentro de mim.

Casa comigo porque você nunca acreditou nas minhas mentiras, mas, ainda assim, amou todas elas. Quero jogar na tua cara que você sempre soube quem eu sou e que se está aqui é por vontade própria.

Se quiser se casar comigo, não espere nenhuma festa. Casamento não é um evento imperdível. Daí, case-se comigo que eu nunca vou te perdoar por usar aquele fraque ridículo em um dia de calor com toda aquela gente insuportável me olhando admirada.

Casa comigo pra eu te mandar embora, para depois você olhar na minha cara com um sorriso sarcástico e me chamar de idiota. Você não precisa de mim, então casa comigo para eu precisar menos ainda.

Casa comigo para me provar que sou um burro em pedir. Mas casa comigo só para poder te sentir e te ressurgir nas tuas manhãs de cara amarrotada. Arruma tuas malas que eu quero te levar para o meu buraco. Então casa comigo e me faça tão infeliz quanto posso te fazer e quanto tenho sido.

O amor vem pelo mistério, pela paz, pelo rompimento, pela quebra dos paradigmas e pela tolice de professar os maiores clichês como se fossem preces a um deus que vive escondido por aí a espera de um sim. Então, casa comigo porque eu preciso e admito que sem você este abismo é muito mais miserável.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Cacos e Fra(s)cos

Hoje percebo que cada amor que tive levou um pouco do meu escasso léxico. As palavras não brotam como antes, ficam ali naquele dicionário inato, inerte. Talvez eu não tenha sabido amar. Alguém aí sabe amar? Dizem que o amor é como um jardim. Se assim fosse era só seguir as instruções atrás da embalagem de sementes... O amor é mortal assim como viver.

Eu sei exatamente qual é meu erro; meu erro é meu desespero e essa coisa forte que não me deixa equilibrar a balança com dois pesos, duas medidas. Eu fico nessa de querer abraçar você, de não querer te ver, de tentar falar, de saber que você vai esquecer. Então eu me rasgo de raiva, eu saio pra rua nua e descubro que a lua bonita no céu é mais doce que a vingança. No dia seguinte eu escrevo cartas com obrigados e eu-te-amos que não são recebidos no dia certo e, mais uma vez, esse amor furta-me mais um punhado das minhas palavras tortas. Adoeço e me faço de forte. Mulher é desdobrável, eu sou. Sou veementemente febril, volátil e voluptuosa, mas nego tudo isso até a morte.

As reviravoltas diárias deixam-me confusa. Domingo, agora, é dono do céu, do êxtase. Segunda-feira é mãe da espera e do engarrafamento. Diante daquela janela pela qual só se vê de dentro, encolho-me de medo e tento ler, ler-me, mas não aprendi braile e de tanto esforço posto nisso, quase adquiro LER. Minha alma, minha lama já diria o poeta. Passei uns 300 dias torcendo para que você entrasse por aquela porta sorrindo, mas isso nunca aconteceu porque eu sempre soube onde te encontrar e você não entraria naquela sala mesmo que eu quisesse, mesmo que eu pedisse. Os 300 dias se foram e hoje me restam suas orações e umas doses homeopáticas de afeto e açúcar. Os 300 dias se foram e hoje isso parece conversa de elevador: Como foi o dia? Sua mãe tá bem? Tudo bem no trabalho? Não gosto de muitas perguntas, gosto mesmo é de ser arrebatada.

No emaranhado de afetos e desafetos, eu cato nos recônditos os restos de amor e tento criar algo menos confuso com eles. Criar com cacos sempre corta, é uma hemorragia. Se a gente soubesse não criava nada com cacos – deixava o tempo passar e a ave sair, mesmo que fosse por 24 horas. Contudo, na desordem do armário, os cacos fazem morada como monstros que podem atacar a qualquer momento em que uma porta é aberta. Meu armário está aberto e os cacos espalhados por aí, assim eles perdem força. Tudo isso é identitário, é a busca por algo que doei, que distribuí deliberadamente e que me faz falta. No meio disso tudo está aquele envelope médio de papel pardo – ele guarda a parte física daqueles 300 dias. Eu te escrevi tantas cartas do meu amor desorganizado e lânguido e estou certa de que você as guarda no seu armário, junto aos cacos, dentro de uma caixa box. Até nisso você foi melhor que eu, mas não importa eu ainda tenho aquele envelope médio de papel pardo com perfume de flores. Sou nostálgica e gosto de esgueirar-me nos precipícios. Não sou medrosa e já tenho a moeda para o barqueiro.

Amor é fogo que arde sem se ver. O mesmo fogo que arde, destrói. Espero que não tenha destruído as palavras estranhas, minhas favoritas. Ele era alto e de olhos negros, ele era minha palavra estranha favorita e agora cabe em um envelope médio de papel pardo com perfume de flores enquanto eu, à espreito, aprendo a colar. Antes só que mal remendada.

domingo, 8 de agosto de 2010

Live and let Die.



- What happened? Why didn't they work out?
- What always happens. Life.

(Tom & Summer - 500 Days of Summer)


O amor é uma casa que construímos dentro de nós. Tenho certeza que a nossa é ampla, iluminada... Sinto falta do nosso lar como uma criança que vê o amiguinho inseparável indo pra longe e não pode fazer nada além de dar um longo adeus. Portanto, obrigada por me dar seu ombro e seu coração. Obrigada por me amar entre todas as minhas crises. Obrigada por sorrir, por me sorrir. Obrigada por ter dividido suas tristezas, família e livros comigo. Obrigada por ter me feito mulher e feliz, por ter me levado às estrelas e por permitir te encontrar na volta. Obrigada por compreender minhas questões familiares deveras complicadas. Obrigada por me mostrar que posso e mereço ser amada. Obrigada por alegrar meus domingos e ficar 6 horas comigo ao telefone. Obrigada por ter me despido e me deixar despir pra você.
Adeus é algo que deve ser dito vagarosamente para que, no fim, somente as lembranças boas sejam guardadas. É assim que quero saber que você se lembrará de mim e que me lembrarei de você. Amo-te mais que posso expressar em palavras e espero algum dia que a vida nos oferte com o reencontro e que nossas boas lembranças permitam, novamente, o mútuo reconhecimento.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Que a gente não alcança mais.


Coragem, às vezes, é desapego.
É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta.
É permitir que voe sem que nos leve junto.
É aceitar que a esperança há muito se desprendeu do sonho.
É aceitar doer inteiro até florir de novo.
É abençoar o amor, aquele lá, que a gente não alcança mais.

Ana Jácomo

quinta-feira, 29 de julho de 2010

(In)Direction

A map in the hands of a pilot is a testimony of a man's faith in other men; it is a symbol of confidence and trust.

It is not like a printed page that bears mere words, ambiguous and artful, and whose most believing reader--even whose author perhaps--must allow in his mind a recess for doubt.

A map says to you, "Read me carefully, follow me closely, doubt me not."

It says, 'I am the earth in the palm of your hand. Without me, you are alone and lost.'

And indeed you are.

Were all the maps in this world destroyed and vanished under the direction of some malevolent hand, each man would be blind again, each city be made a stranger to the next, each landmark become a meaningless signpost pointing to nothing.

Yet, looking at it, feeling it, running a finger along its lines, it is a cold thing, a map, humourless and dull, born of calipers and a draughtsman's board.

That coastline here, that ragged scrawl of scarlet ink shows neither sand nor sea nor rock; it speaks or no mariner, blundering full sail in wakeless seas, to bequeath, on sheepskin or a slab of wood, a priceless scribble to posterity.

This brown blot that marks a mountain has, for the casual eye, no other significance, though twenty men, or ten, or only one, may have squandered life to climb it.

Here is a valley, there a swamp, and there a desert; and here is a river that some curious and courageous soul, like a pencil in the hand of God, first traced with bleeding feet.

Here is your map. Unfold it, follow it, then throw it away, if you will. It is only paper. It is only paper and ink, but if you think a little, if you pause a moment, you will see that these two things have seldom joined to make a document so modest and yet so full with histories of hope or sagas of conquest.

No map I have flown by has ever been lost or thrown away; I have a trunk containing continents...

Beryl Markham
(West with the night)

domingo, 18 de julho de 2010

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pseudar


Eu que não amo mais você, me peguei perdida entre as desculpas do ser e não ser.

Estou todo o dia inventado irrelevâncias que produzam qualquer motivo bobo para te ligar. Tiro e retiro telefones, ligo e desligo fatos, confusões, conclusões.

Eu que não amo mais você, resolvi, sem porquê, dar faxina no quarto.

Estou horas a fio olhando essas paredes e porta-retratos, minha cama e seus sapatos. Espero, reespero, desespero por minhas mãos não mais conseguirem te tocar.

Eu que não amo mais você, fiz um pacto de força e sangue comigo mesma.

Estou, contudo, remoendo as lágrimas como alguém que recicla a própria sobrevivência. Percebi que meu equilíbrio freudiano ocupa somente minhas teses e não mais meu corpo já falido.

Eu que não amo mais você, escrevo cartas e poemas sem métrica.

Estou a recitar-te como alguém que lê um livro sagrado em busca de salvação. Escrevo, escrevo-te e entendo que todas essas linhas deixaram de ser minhas a algum tempo.

Eu que não amo mais você, sinto teu cheiro no travesseiro e bebo a água que deixou no copo.

Estou arrancando as cascas em cima das feridas para, assim, encontrar meu erro. Os arranhões desta queda significam também a doce leveza perdida de outrora.

Eu que não amo mais você, titubeio em não mais te mirar, em ser forte, em andar sem par.

Eu que não amo mais você, decidi te libertar e me banhar na água do mar.

Eu, eu que não amo mais você...

domingo, 25 de abril de 2010

Entre o querer e o estar, o ser.

Este deveria ser nosso dia... Um dia só nosso e especial. Eu não sei o que anda acontecendo: O sol tem estado tão quente e a vida tão fria. É, não deveria ser assim, não poderia ser assim. Como pôde, como podemos? Como podemos nos tornar uma tarde chuvosa de verão que inunda e estraga tudo? Prefiro o outono de belas folhas, dias de calor e brisa ao entardecer, assim seríamos tudo – tudo que precisamos para estar. Não soubemos ser eu e você, não soubemos ser nós. O vento que antecede a tempestade traz poeira e não limpeza. As lágrimas que escorrem necessitam esforço, geram suor . A proporção do suor é grande demais para que as lágrimas consigam lavar a sujeira que ele gerou. Há um tempo na vida em que julgamos que o amor é tudo; não o amor não é tudo. O amor é um rio cujas águas precisamos aprender a navegar. Eu amo você, mas desconfio de nós.
Tornei-me mais ríspida ainda e cobro mais que nunca. Ando muito cansada, não consigo me entregar, não escrevo e ouço músicas de despedida. Sei que tenho que caminhar com minhas próprias pernas e essa paraplegia que se instaurou não encontra cura. Existe alguma forma de ser eu e não te machucar? As paredes do quarto têm vida própria e se encolhem. Eu me aperto claustrofobicamente pra caber neste cubículo e não atrapalhar teu espaço, mas eu me expando. Expando-me em lágrimas que te sufocam. Eu não sei ser outra e não sei se você ainda me quer assim. Sinto falta do teu corpo me dando vida. Sinto falta da vida quando estávamos juntos, quando éramos nós. Então eu durmo – o sono é meu instinto de proteção. Nunca quero acordar pois nos sonhos eu tenho asas coloridas e todos apontam para mim dizendo: Olha que pássaro lindo!
Engordei nesses anos e você vive dizendo que deveria me cuidar mais, que sou linda. As palavras entram e saem da minha cabeça sem rumo. Você não poderia me escrever um poema? Está prestes a fazer um ano que coloquei esta aliança no dedo e hoje, não sei porquê, tiro-a pois cismei que ficará preta a qualquer momento. Olho para a aliança e sei que o ouro é algo que se pode derreter. Derreto-me febril em um banho frio e não sei onde você está; quando acordei já não estava mais na cama. Casa comigo de verdade e não me deixa ir embora.
Essa vida é esquisita mesmo. Sinto-me no País das Maravilhas e toda vez que olho para o lado o coelho repete que está tarde. É, está tarde... Muito tarde. Fiquei aqui envolta nas palavras que saltitavam em minha cabeça e submersa em sentimentos. Aqui sou rainha de todos os meus reinos. Daí você chega, me dá um beijo na testa, sorri e diz “boa noite”. Eu não respondo, não consigo (naquele momento as palavras só existem no reino da fantasia), mas ensaio um sorriso e isso te deixa satisfeito. Observo-te indo embora e sussurro que te amo e isso é mais do que posso fazer.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

11 de Janeiro.

Não choro pelas palavras. Choro de saudade (...).
Quando alguém morre ou desaparece, a palavra escrita é o único alento.
¹

As palavras tendem a tornar-se escassas. Desta vez não consegui dizer muita coisa, chorar muita coisa, pensar muita coisa, só gritei: Calma! A vida é longa pra uns poucos e curta para nós. Será que os anos contam mesmo a vida? Será que esse relógio ingrato de apenas 24 horas diáris quantifica nossa existência?
Sei que não mais te verei e sei que a única coisa que me lembro é a maneira como eu olhava pra cima e via teu sorriso ao longe. Todo mundo deixa alguém todo o tempo. Uns guardam as lembranças de uma vida quando era possível acariciar teus cabelos negros. Outrs guardam uns poucos anos e se obrigam a se comportar como adultos para dizer adeus e os piopres são aqueles que nem puderam te sentir como deveriam e se agarram no primeiro semelhante teu que lhes aparece.
Ao final não resta muito a não ser não pensar muito e pedir desculpas por não ser, não estar e por não ter arrancado de ti as palavras que nunca quis pronunciar. Ao final a dor é para quem fica, pois, ao final, ainda restou teu sorriso no travesseiro.

¹ Milton Hatoum in Órfãos do Eldorado.